Sem alarde, Netflix apaga coleção de filmes palestinos do catálogo do streaming
Anunciada em 2021 pela Netflix, a coletânea de 32 filmes feitos por cineastas palestinos ou que contavam histórias sobre a região foi praticamente eliminada do catálogo do serviço sem nenhum aviso prévio. Após apagar pelo menos 24 filmes pertencentes a ela de seu catálogo, a plataforma de streaming restringiu a única obra o catálogo da coleção disponível nos Estados Unidos.
Quem acessa o streaming no país atualmente só tem acesso ao documentário “Ibrahim: um destino a ser traçado”, produzido por Lina Al Bed em 2019. Já quem usa o serviço com um endereço eletrônico de Israel não somente não consegue ver a coletânea, como não existe qualquer indício de que a iniciativa “Histórias Palestinas” tenha acontecido.
Coleção de Histórias Palestinas foi apagada pela NetflixFonte: Divulgação/Netflix
A situação faz com que a Netflix esteja sendo acusada de colaborar com o apagamento de vozes palestinas diante dos conflitos que marcam a região há mais de um ano. Após o Hamas realizar um grande ataque no dia 7 de outubro de 2023, Israel desde então tem realizado vários ataques e bombardeios frequentes, especialmente na região da Faixa de Gaza.
Netflix afirma que fim da coleção é “procedimento padrão”
No Brasil, embora a página dedicada às Histórias Palestinas ainda exista, ela também acabou sendo esvaziada de seu conteúdo original. Por aqui, a única obra que ainda consta na coleção é A 200 Metros, filme que conta a história de uma família que não pode cruzar a fronteira do país por conta de problemas burocráticos.
Nos Estados Unidos, a decisão já está motivando protestos de assinantes e levando ao cancelamento de assinaturas, resultado do momento político delicado que a região vive. Em resposta, a Netflix afirma simplesmente que a decisão faz parte de seus procedimentos padrões, que envolvem a descontinuidade de licenças de várias séries e filmes.
Com a decisão, não somente o streaming apaga parte de sua história dedicada à Palestina, como também deixa de cumprir uma promessa que fez no passado. Embora tenha prometido que a coleção temática iria crescer com a passagem do tempo, o serviço nunca chegou a adicionar itens à sua seleção.
Quem está cancelando o serviço de assinatura também aponta que, em sentido contrário, ele não retirou do ar nenhuma produção relevante criada em Israel. Entre aquelas que permanecem no streaming está a série Fauda, que já gerou críticas dos defensores da causa palestina pela maneira racista e caricata como mostra os habitantes da região.
A produção, que está disponível no Brasil, também gera críticas por ter como temática as ações do exército israelense. Durante as quatro temporadas, a audiência pode ver seus protagonistas atacando civis palestinos, invadindo casas da população local e até mesmo realizando ataques em Gaza.
Entidade protesta decisão do streaming
A coletânea também foi esvaziada no BrasilFonte: Divulgação/Netflix
Uma carta organizada pela Freedom Fordward e assinada por outras organizações pró-Palestina critica a decisão do streaming e pede que os filmes eliminados retornem à plataforma. Assassinada por Reed Hastings, Greg Peters e Ted Sarandos, ela afirma que a decisão ajuda a apagar histórias e narrativas da população do país.
“Esse apagamento das vozes palestinas pela Netflix acompanha muitas décadas lamentáveis de supressão das perspectivas e das narrativas palestinas no noticiário e nos veículos ocidentais de notícias e de entretenimento”, afirma o documento. Ele também lembra que, somente no último ano, o país perdeu 9% de sua população, com 186 mil mortes sendo registradas.
Conforme lembra o Intercept Brasil, essa não é a primeira vez que a coletânea Histórias Palestina gera polêmica. Na época em que a coletânea foi anunciada, a Netflix foi criticada pela organização sionista Im Tirtzu — mas respondeu afirmando que “acredita na liberdade artística” e estava investindo em histórias autênticas de todas as partes do mundo.
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