A Marvel quase faliu nos anos 1990, e isso influencia o MCU até hoje

Por Felipe Gugelmin Valente

30/08/2024 - 11:003 min de leitura

A Marvel quase faliu nos anos 1990, e isso influencia o MCU até hoje

Fonte : Divulgação/Marvel

Fundada em 1939 com o nome Timely Comics e assumindo o nome Marvel Comics desde 1961, a companhia atualmente é uma das principais subsidiárias da Disney e sinônimo de um grande império de entretenimento. No entanto, decisões equivocadas e problemas de gerenciamento quase fizeram com que ela desaparecesse completamente durante os anos 1990.

Embora já tivesse passado por algumas crises no passado, a companhia acabou sendo vítima de suas próprias ambições e de um mercado de colecionismo inflado, do qual ela se aproveitou bastante. No entanto, a explosão da bolha dos quadrinhos, somada a compras de várias empresas por valores inflados, fez com que ela tivesse que lidar com uma dívida que quase não conseguiu pagar.

Como a Marvel quase faliu nos anos 1990?

Os problemas da Marvel começaram durante a década de 1980 e, curiosamente, foram causados por um aumento de interesse nos quadrinhos. No entanto, ele não era necessariamente de fãs interessados em conhecer novas histórias e personagens, mas sim de especuladores que viam neles como uma forma de ganhar dinheiro fácil.

O colecionismo levou a uma verdadeira explosão na venda de quadrinhos
O colecionismo levou a uma verdadeira explosão na venda de quadrinhos

Parte disso se devia ao colecionismo: nas condições certas, uma revista histórica dos anos 1950 ou 1960 até hoje pode render muito dinheiro no universo de colecionadores. Sabendo disso, a editora — assim como muitas de suas concorrentes, incluindo a DC — começou a lançar várias “edições número 1” em tiragens bastante generosas.

Os especuladores começaram a comprá-las em grande quantidade, dando a impressão errada de que o mercado de quadrinhos estava muito aquecido. Quando a realidade bateu na porta e muitas pessoas descobriram que suas edições não valiam nada, muitas lojas especializadas fecharam e a própria Marvel correu risco de vida.

O estouro da bolha e investimentos ruins quase foram a ruína da editora
O estouro da bolha e investimentos ruins quase foram a ruína da editora

Com suas ações vendidas na bolsa desde 1991, a empresa viu seus papeis passarem de US$ 35,75 para somente US$ 2,37 três anos depois e teve que lidar com uma dívida que superava os US$ 600 milhões. Isso gerou uma série de dúvidas sobre o futuro da empresa, com diversos investidores pressionando para que ela fosse liquidada ou vendida.

Curiosamente, entre aqueles que alertavam que o mundo dos quadrinhos estava em risco estava Neil Gaiman, na época dedicado a Sandman. Em 1993, ele afirmou que editoras estavam vendendo “bolhas e tulipas” para o público, que estava adquirindo várias histórias não por se interessar por elas, mas por acreditar que poderia lucrar com elas no futuro.

A empresa teve dificuldades para sobreviver

Enquanto todo o mercado de quadrinhos foi abalado pelo estouro da bolha, a Marvel foi ainda mais prejudicada graças a um investidor conhecido como Ron Perelman. Em 1989, ele investiu US$ 82,5 milhões comprando a editora da New World Pictures e aproveitou o dinheiro que ela fazia na época para bancar uma expansão agressiva.

Nem mesmo os maiores heróis da Marvel conseguiriam salvar a empresa
Nem mesmo os maiores heróis da Marvel conseguiriam salvar a empresa

Ele gastou aproximadamente US$ 700 milhões adquirindo partes da fabricante de brinquedos ToyBiz, comprou fabricantes de cartas colecionáveis como a Leer, investiu em adesivos da Panini e na distribuidora Heroes World. Como a queda no interesse por quadrinhos, Perelman não conseguiu sustentar mais sua estratégia, que era baseada em aumentos de preços e no aumento constante de números de vendas.

Para tentar reverter a situação, Perelmen fundou a Marvel Studios em 1995 com a intenção de trazer alguns de seus principais personagens para a tela dos cinemas. Devido à resistência de muitos acionistas, ele decretou a falência da companhia, o que permitiu que ele reorganizasse suas atividades sem precisar de permissão externa.

Isso desencadeou uma disputa entre ele e o investidor Carl Icahn, que durou dois anos e resultou no afastamento de ambos. Quem “venceu” foram dois investidores da ToyBiz, com quem a Marvel se fundiu nesse intervalo: Isaac Perlmutter e Avi Arad. Eles decidiram eleger Joseph Calamari como o novo CEO, que tomou algumas medidas que têm repercussões até hoje.

Consequências atingem a Marvel até os dias atuais

Incapaz de produzir filmes e animações por conta própria e precisando de muito dinheiro, a companhia começou a licenciar seus principais heróis para empresas como Universal, Fox e Sony. É por esse motivo, inclusive, que até hoje a companhia japonesa é capaz de produzir filmes como Venom e Kraven por conta própria.

Foi somente em 2003 que a ideia da companhia formar seu próprio estúdio começou a tomar força, e ela só se tornou possível graças a um acordo com a Merril Lynch, estabelecido em 2005. Em troca de US$ 525 milhões, a editora apostou o futuro de propriedades como Thor e o Capitão América — embora arriscada, a ação se mostrou certeira e rendeu um grande império cinematográfico.

Ao mesmo tempo, a companhia teve que respeitar os acordos do passado e precisou lidar com várias limitações ao construir seu Universo Cinematográfico Marvel (MCU). Foi somente com o tempo — e com a influência da Disney — que ela conseguiu trazer às telas grandes versões próprias do Homem-Aranha e, mais recentemente, de Deadpool & Wolverine.

Esse “processo de recuperação” dura até os dias atuais e ajuda a explicar porque somente agora ela está investindo em filmes do Quarteto Fantástico e em vilões como o Doutor Destino. Embora isso possa ter tornado a cronologia do MCU bem diferente dos quadrinhos, a situação não impediu que ela construísse um negócio de bilhões que continua forte, apesar de alguns tropeços recentes.


Por Felipe Gugelmin Valente

Especialista em Redator

Redator freelancer com mais de uma década de experiência em sites de tecnologia, já tendo passado pelo Adrenaline, Mundo Conectado, TecMundo, Voxel, Meu PlayStation, Critical Hits e Combo Infinito.


Veja também


Minha Série é um canal de entretenimento do TecMundo. Trazemos novidades incríveis sobre séries e filmes que estão na hype em todo o mundo.