Dublês evitam relatar pancadas na cabeça para não perder emprego em Hollywood
Um novo estudo publicado no Journal of Occupational Medicine and Toxicology revelou uma realidade preocupante sobre os dublês que trabalham nas principais séries e filmes do mercado. Os resultados apontam que a maioria dos profissionais da área evita relatar pancadas na cabeça, já que isso poderia fazer com que eles percam oportunidades de trabalho.
Segundo Jeffrey Russel, um dos coautores do estudo, os responsáveis por fazer cenas perigosas também convivem com o temor de serem colocados nas “listas negras” de estúdios. “Quanto mais machucados ou traumas, mais difícil se torna encontrar oportunidades”, afirmou o pesquisador da Universidade de Ohio.
A falta de relatos de machucados, especialmente aqueles envolvendo a região da cabeça, tornam dublês mais suscetíveis a doenças como a encefalopatia traumática crônica (CTE, na sigla em inglês). Segundo os 87 profissionais que participaram do estudo, pelo menos 80% deles já participaram de cenas onde bateram a cabeça ou sofreram um movimento de chicote com o pescoço.
Falta de proteção a dublês é preocupante
86% dos respondentes também relataram que demonstraram sintomas semelhantes aos de uma concussão após os impactos que sofreram, mas 65% continuaram trabalhando normalmente. Dentre eles, somente 38% receberam a ajuda de um profissional da saúde e tiveram suas condições diagnosticadas.
Atores envolvidos em cenas perigosas temem pela estabilidade de seus empregosFonte: Divulgação/Andrew Lockwood/Pixabay
O estudo também mostra que 44% das pessoas preferiram não relatar os incidentes por vergonha, medo de perder oportunidades profissionais ou para demonstrar resistência. No entanto, a grande maioria não percebeu a gravidade da situação na hora, sinal de que Hollywood sofre com a falta de conscientização entre dublês profissionais, produtores e diretores.
Leslie McMichael, outro coautor do estudo, que também trabalha como coordenador de cenas de ação, explica que sua experiência na indústria mostra que muitas pessoas convivem com traumas que vão se acumulando com o passar dos anos. “Especialmente antigamente, a segurança não era uma preocupação”, explicou.
Com isso, é comum que profissionais mais veteranos sofram com problemas cognitivos e irritabilidade, o que diminui ainda mais as chances de eles conseguirem um emprego. “Quando comecei a ver isso mais e mais, eu sabia que era um problema real em nossa indústria e que essa população geralmente não procura ajuda médica por medo do desemprego”.
A conclusão da pesquisa é que, para que a situação possa melhorar, é preciso acabar com as condições que condicionam o relato de machucados à estabilidade de empregos. Profissionais também precisam acabar com a “cultura do cowboy”, que diz que bons dublês devem ser durões e evitar reclamar de dores ou de machucados.
Para completar, o estudo também sugere que condições de trabalho devem ser aprimoradas, seja através do oferecimento de equipamentos de proteção ou de melhores treinamentos. Para Elizabeth Beverly, que também assina a pesquisa, é importante que Hollywood passe a dar a traumas, especialmente na região da cabeça, a mesma preocupação que times esportivos profissionais demonstram com seus atletas.
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