Os Rejeitados comove ao trazer uma inusitada história de Natal (crítica)
Os Rejeitados, novo filme do diretor Alexander Payne (de Sideways - Entre Umas e Outras) parece perfeitamente elaborado para estimular a nostalgia em um público fissurado pelos filmes dos anos 1970. O longa – que está indicado a cinco Oscars, incluindo de Melhor Filme, Melhor Ator e Melhor Atriz Coadjuvante – provoca uma visita ao passado em vários aspectos.
A começar pelo tema: trata-se de um filme de Natal. Um tanto diferente, é claro, pois se trata de um filme melancólico, que se sustenta na exibição de personagens enjeitados de um modo ao outro.
Ainda assim, Os Rejeitados se une a uma tradição que remete ao menos desde o clássico A Felicidade Não Se Compra, de 1946, que sedimentou a ideia de que a audiência gosta de refletir sobre a vida por meio de produções ambientadas nas festas de fim de ano.
Por fim, Os Rejeitados trabalha em uma linguagem e uma ambientação estética condizente com a época que retrata. Ou seja, ele não apenas se passa em 1970, mas também parece com um filme que poderia ter sido filmado neste ano, por conta de elementos de edição, fotografia e técnicas de filmagem.
Esse cuidado de Alexander Payne ajuda com que o espectador mergulhe com gosto na história que ele pretende contar.
Os Rejeitados: um encontro tocante entre três outsiders
Embora não traga exatamente uma história surpreendente, a trama de Os Rejeitados comove por demonstrar uma certa singeleza. Ela foca nas interações entre três personagens principais, que estão presos em um colégio interno para passar as festas de fim de ano, cada um por uma razão diferente.
O primeiro é o professor Paul Hunman (Giamatti está indicado ao Oscar de Melhor Ator), que tem algo de excêntrico e loser. Excessivamente rígido e estoico, ele se passa como uma figura desagradável e sem vida. Para completar, ele é estrábico e tem um problema no organismo que faz com que ele cheire a peixe.
Hunman está encarregado, a contragosto, de ciceronear os alunos riquinhos da escola que, por várias razões, foram deixados lá pelos pais para passar o feriado. Contudo, várias coisas acontecem e apenas um estudante acaba ficando para trás. Ele se chama Angus (papel de estreia do ator Dominic Sessa) e foi deixado lá pela mãe e seu novo marido rico, que querem aproveitar uma lua de mel.
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Por fim, junta-se ao trio a chefe da cozinha do colégio, Mary Lamb (Da’Vine Joy Randolph, que concorre ao Oscar Melhor Atriz Coadjuvante). Trata-se de uma mãe enlutada que acaba de perder o filho, morto na Guerra do Vietnã, e que está enterrado na escola.
Todos estão ali contra a própria vontade e estão ensimesmados em seus problemas. Aos poucos, claro, eles começam a encontrar intersecções que vão iluminando as cenas em que passam juntos. São três outsiders, cada um a seu modo, mas que acabam vivenciando momentos únicos de generosidade quando as suas tristezas se unem.
Uma subversão ao clássico filme de Natal
(Fonte: Miramar)Fonte: Miramar
É interessante notar que Alexander Payne explora premissas clássicas – como a de filmes com professores e das histórias de Natal – para alterá-las e propor uma nova abordagem. No caso do professor Paul Hunman, podemos dizer que, embora ele carregue em si um estigma de crueldade, o personagem logo se revela como um "maldoso bondoso", ou seja, alguém capaz de praticar atos generosos por trás de uma carapaça rígida. Em outras palavras, sem grandes novidades aqui.
Já quando se chega ao mote do filme de Natal, há mais surpresas. Os Rejeitados não pretende ser uma obra edificante, capaz de celebrar as belezas da data. Embora os personagens tenham uma bela noite de Natal, trata-se de um filme que comove justamente pelo ar algo melancólico que os três carregam.
Embora não seja o mais original dos filmes, é por abordar a tristeza do Natal – experiência comum a boa parte de nós, sobretudo os que sentem pressionados em demonstrar alegria nas datas de fim de anos – que Os Rejeitados consegue conquistar corações.
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