O Exorcista do Papa é mesmo inspirado em história real?
Liderando o TOP 10 filmes e séries mais assistidos pelos brasileiros no HBO Max, o filme de terror O Exorcista do Papa (2023) vem impressionando o público com seu enredo macabro de casos de possessão demoníaca. E um detalhe torna tudo mais assustador: o longa é baseado em histórias reais.
A sinopse oficial diz que o filme acompanha o Padre Gabriele Amorth enquanto ele investiga a terrível possessão de um menino. No entanto, ele acaba descobrindo uma conspiração secular que o Vaticano tentou desesperadamente esconder do mundo.
A dúvida que fica é: até onde o filme retrata com fidelidade as histórias vividas por um dos exorcistas mais conhecidos nas últimas décadas?
O que é verdade e mentira no filme?
De acordo com os produtores do longa, a trama se baseia nos livros Um Exorcista Conta Sua História (1990) e Um Exorcista: Mais Histórias de Gabriele Amorth (1992) escrito pelo clérigo. No entanto, o filme não retrata nenhum caso específico dos mais de 160 mil exorcismos que o verdadeiro padre alega ter feito.
Para conferir o que é verdade ou ficção no roteiro de O Exorcista do Papa, produção dirigida por Julius Avery (Operação Overlord), fomos atrás de entrevistas e publicações sobre o assunto. Alerta spoilers: Citaremos partes importantes do filme. Siga em frente por conta e risco próprios!
Verdade: A maioria dos casos atendidos não eram possessão
A cena de "exorcismo de emergência" atendido pelo padre Amorth (Russell Crowe) mostra a descrença do exorcista de que o homem a ser atendido não estava realmente possuído.
Russell Crowe em O Exorcista do Papa.Fonte: Sony Pictures
A cena provavelmente foi inspirada pelo caso de Roberto, citado nas memórias de Gabriele Amorth. Além disso, o próprio clérigo afirmou em várias entrevistas que apenas 100 dos exorcismos que fez ao longo da vida se tratavam de possessão, enquanto a maioria dos eventos eram doenças mentais.
Verdade: Rosaria é inspirada em Emanuela Orlandi
O personagem de Russel Crowe confessa ao seu aprendiz, padre Esquibel (Daniel Zovatto), se sentir culpado pelo suicídio da jovem Rosaria. O padre da ficção faz referência aos abusos sexuais que a personagem teria sofrido dentro do Vaticano.
Esse detalhe nos faz lembrar do real caso de Emanuela Orlandi, uma adolescente que desapareceu em junho de 1983 após a sua aula de música em Roma. O padre Amorth da vida real comentou sobre o caso ao The Telegraph, falando que a vítima foi sequestrada para festas sexuais para a polícia do Vaticano antes de ser assassinada.
Verdade: Padre Amorth lutou na Segunda Guerra Mundial
Isso mesmo, o padre Amorth foi um dos milhares de jovens convocados por Mussolini para defender o regime italiano. Porém, Gabriele fez parte da resistência antifascista logo depois.
Em uma entrevista, o ator protagonista do filme disse que a "culpa de sobrevivente pós-guerra" vivida pelo padre verdadeiro foi explorada no filme em um contexto totalmente fictício, a cena em que o demônio Asmodeus tenta possuir o corpo de Amorth.
Ficção: Scooter, meias vermelhas e musica pop
Exceto pelo humor sinistro, tanto a aparência quanto a personalidade do padre foram reinventados pela produção do filme. Não há evidências de que o Exorcista do Papa andava por Roma em uma scooter da Ferrari, usasse meias vermelhas ou gostava de ouvir música pop.
Padre Amorth à esquerda e Russell Crowe caracterizado para o filme à direita.Fonte: Sony Pictures
Ficção: A abadia de San Sebastian não é uma abadia real
A abadia gótica de San Sebastian exibida como cenário do principal caso de possessão do filme é, na verdade, o Castelo Dromore da Irlanda.
Ficção: Henry é um caso de possessão totalmente fictício
Interpretado por Peter DeSouza-Feighoney, Henry é um menino de 10 anos que tem o corpo possuído pelo anjo caído Asmodeus. Nas memórias de Gabriele, não há nenhum caso de possessão parecido, logo é uma história original no filme.
Ficção: As manifestações demoníacas retratadas no filme
É de se esperar que um filme de terror com casos de possessão explore os limites do absurdo para gerar emoções fortes no público. O Exorcista do Papa não é uma exceção!
Apesar disso, o verdadeiro Padre Amorth afirmou ter visto coisas "que confundiram toda a ciência e toda a medicina", incluindo a alegação de ter visto alguém levitar. Algo simples perto de um Henry possuído que vomita pássaros e tem seu rosto desfigurado...
Cena de O Exorcista do Papa.Fonte: Sony Pictures
Quem não gostou nada dessa liberdade criativa foi a instituição criada pelo padre Amorth. A Associação Internacional de Exorcistas se pronunciou sobre o filme, afirmando que "a narrativa, além de historicamente incorreta, distorce e falsifica o que é verdadeiramente vivido e experimentado durante o exorcismo de pessoas verdadeiramente possuídas".
As reações no meio clérigo foram controversas e, pelo jeito, não impediram que o filme fosse um sucesso no streaming da HBO. Até mesmo um dos produtores executivos do longa (que também é um padre), Edward Siebert, diz que há uma mensagem positiva por trás do trabalho de Amorth no filme: “É bom finalmente ver um padre como um herói”.
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