O pior filme já feito está completando 20 anos em 2023
É difícil definir qual foi o pior filme já lançado na história do cinema, já que essa é uma classificação bastante pessoal e subjetiva. Porém, em comentários e listas que circulam pela internet há anos, existe um nome que é praticamente uma unanimidade como forte concorrente.
Trata-se de The Room, que tem uma história de origem tão fascinante quanto a sua fama, passando de projeto pessoal e motivo de risadas para um objeto de admiração. Agora com 20 anos de vida, o filme até segue nas listas de piores longas-metragens já feitos, mas carrega também uma pitada de carinho do público.
Vida e obra de Tommy Wiseau
The Room é um drama lançado em 2003 que conta a história de Johnny, um banqueiro bem sucedido financeiramente que começa a desconfiar que a sua namorada, Lisa, está tendo um caso com o seu melhor amigo, Mark. Essa é a premissa básica da trama e, no geral, ela não vai muito além disso.
O pôster de The Room.Fonte: Reprodução/Wiseau Films
O responsável pelo projeto é Tommy Wiseau, que assume o papel de diretor, roteirista, produtor e protagonista sempre com o mesmo visual: cabelo comprido, olhar perdido e um jeito peculiar de falar. No elenco estão também o seu então melhor amigo Greg Sestero e Juliette Daniele, ambos jovens tentando começar uma carreira de atuação na cidade.
Com quase 100 minutos de duração, o filme pode se resumido em vários diálogos passados no prédio onde moram os personagens, com Johnny cada vez mais irritado com a possível traição e levando a situação às últimas consequências.
Wiseau em The Room.Fonte: Reprodução/Wiseau-Films
Se a fama de The Room é amplamente documentada, o mesmo não se pode dizer da vida de Wiseau: o aspirante a cineasta tem uma origem desconhecida, alegando que o seu sotaque claramente europeu é do estado norte-americano de Nova Orleans e mantendo em segredo a origem da sua renda, que não era pouca para bancar os US$ 6 milhões de orçamento de The Room.
Da queda ao auge de The Room
O filme estreou em 27 de junho de 2003 em uma pequena cadeia de cinemas de Los Angeles, o que já é relativamente surpreendente para um filme independente. Para adicionar ainda mais mistério à sua possível fortuna, Wiseau comprou espaço em um outdoor na cidade para divulgar o filme e foi de limusine à primeira sessão.
Danielle, Wiseau e Sestero na divulgação do filme.Fonte: Reprodução/Wiseau-Films
Só que logo as más notícias começaram: as críticas foram pesadas desde o início e, em bilheteria, menos de US$ 2 mil foram arrecadados.
Mas por que The Room é considerado tão ruim? Compilações com as "melhores" partes do filme no YouTube explicam sozinhas a fama que a produção ganhou com o tempo, com especial destaque para o desabafo de Wiseau no terraço e o seu breve momento em uma loja de flores.
Além da atuação nada profissional do protagonista, os diálogos sem sentido e a história rasa geraram uma fama que o diretor não gostaria de ter originalmente. O caráter barato da produção também é evidenciado, como o uso de uma tela verde de má qualidade, o som fora de sincronia e até cenas de sexo de coreografia duvidosa.
Porém, com o passar dos anos, The Room foi ganhando o status cult de produções consideradas "tão ruins que ficam boas", despertando cada vez mais curiosidade do público.
Além de virar presença frequente em listas de piores filmes, ele começou a ter reexibições no cinema — várias delas lotadas, com o público já sabendo de cor as falas e comemorando a chegada das cenas mais famosas como uma torcida de futebol.
A homenagem
A história e os bastidores do projeto foram contados também em Artista do Desastre, filme de 2017 dirigido e estrelado por James Franco, que interpreta Wiseau ao lado de Dave Franco (Scrubs), Seth Rogen (Superbad - É Hoje), Alison Brie (Community) e Ari Graynor (Mrs. America).
O filme é baseado no livro The Disaster Artist do próprio Sestero, que narra a sua amizade com Wiseau e as peculiaridades da produção em tom de homenagem, reforçando o status de cult em torno da produção.
Ironicamente, o Artista do Desastre chegou bem mais longe que o seu material de origem: o longa-metragem foi indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado e James Franco levou o Globo de Ouro de Melhor Ator.
Já Wiseau continuou produzindo alguns projetos próprios — todos de qualidade igualmente duvidosa, mas nenhum com a mesma fama inesperada da sua estreia.
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