MCU: até quando a Marvel vai continuar fazendo filmes medíocres? (Opinião)
Responsável por criar o maior universo compartilhado do cinema, a Marvel já teve sua época de ouro quando multidões enlouquecidas saiam das salas cinemas completamente catatônicas após vivenciarem lutas entre seus heróis favoritos e a conclusão de sagas aclamadas nos quadrinhos. Hoje, o ar de decepção é normal a cada novo lançamento.
Não é segredo: o público está saturado com filmes de super-heróis. Parece faltar criatividade em Hollywood para novas produções, mas sempre que um pingo de imaginação começa a ser ventilado, e dá esperança que finalmente teremos um respiro, essa sensação é atropelada por expectativas erradas de fãs.
Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania estreou nas últimas semanas e fez questão de apontar que alguma coisa está errada, e o público certamente sente isso.
Novas Fases, mesmos problemas
Com o lançamento de Vingadores: Ultimato em 2019, a Marvel sabia que replicar o sucesso imensurável de um filme-evento como esse demandaria um esforço absurdo, beirando o impossível. Afinal de contas, foram mais de 10 anos cozinhando o público para a eminente ameaça de Thanos, a busca pelas Joias do infinito, e o fim de personagens e atores aclamados, como Steve Rogers (Chris Evans) e Tony Stark (Robert Downey Jr.).
Começar a Fase 4 se tornou ainda pior com a pandemia da COVID-19 em 2020, que causou um baque gigantesco no cinema. Mas com o tempo e a volta para a normalidade, essas desculpas foram ficando no passado, e o público queria saber: como o universo Marvel sobrevive após Ultimato? Bem, aparentemente o estalo do Titã Louco acabou com a criatividade da Casa das Ideias.
A Fase 4 começava de forma empolgante. WandaVision, Falcão e o Soldado Invernal e Loki tiveram boas recepções, principalmente a produção focada no Deus da Mentira, que deu esse pontapé inicial para o começo da Saga do Multiverso.
Não é preciso gastar um tempo precioso fazendo a descrição de todos os filmes da Marvel, e categorizar essas produções, simplesmente como boas, ruins ou inúteis — olá, Viúva Negra. O problema é que o público já assistiu a praticamente todos esses filmes no passado, e continua assistindo adaptações repaginadas e cansadas, que se agarram a uma fórmula consagrada em 2015.
Viúva Negra traz uma personagem estupidamente morta em Ultimato apenas para introduzir Yelena Belova, e cai na mesmice de qualquer longa de ação relacionado ao passado da URSS. Gavião-Arqueiro é a clássica passagem de manto para uma nova geração, mas sem charme; Thor: Amor e Trovão é um desperdício de vilão para piadinhas fora do tempo a cada 30 segundos.
A Marvel não tem mais o Capitão América e o Homem de Ferro para se agarrar e mover o público. Introduzir novos personagens é muito importante; contar novas histórias para expandir o universo é essencial. Mas fazer de três a quatro filmes, e pelo menos duas ou três séries por ano, acaba sendo extremamente cansativo.
Não somente cansativo, mas tedioso, quando essas histórias parecem não levar a lugar nenhum. Do que adianta um quarto filme do Thor se o personagem cai mais uma vez na mesma história de superação, perda de entes queridos, um vilão obscuro e completamente mal aproveitado?
As séries até tentam fazer algo um pouco diferente, como em Cavaleiro da Lua. No entanto, as produções sempre acabam caindo na mesma fórmula de piadinhas e um arco de redenção. A Fase 4 da Marvel não é necessariamente ruim, mas é sem sal. É sem criatividade. E falha ao tentar criar uma ameaça gigantesca para os próximos anos com Kang, porque simplesmente não há tempo para desenvolver esse inimigo como foi feito com Thanos ao longo de quase uma década.
O problema que a Fase 4 teve, e o problema que as produções inicias da Fase 5 terão, é sempre tentar criar um filme-evento cheio de fan-service e aparições especiais para fazer o público se interessar naquele longa, e disfarçar o quão pobre sua narrativa é — sim, estou falando de Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa.
É irritante ver que a grande maioria desses filmes tenham exatamente a mesma estrutura. O herói renegado descobre poderes inimagináveis, passa por um treinamento até se provar digno e enfrentar seu antagonista. A equipe que não se gosta, formado pelo galã, a estranha, o tanque e o personagem burro. O vilão que quer dominar e conquistar mundos não importa o motivo.
Os fantoches
Jeff Loveness escreveu o roteiro de Quantumania e atualmente trabalha em Vingadores: Dinastia de Kang. Michael Waldron assinou a primeira temporada de Loki e escreveu Doutor Estranho: No Multiverso da Loucura. Dois bons roteiristas, que tanto em Quantumania quanto em Doutor Estranho, mostram a base de um bom projeto ser desperdiçada com ideias toscas.
O que aconteceu para Waldron sair da melhor série do MCU até agora, para a confusão de Multiverso da Loucura? A resposta está na própria Marvel — e Kevin Feige, o chefão do estúdio, sabe disso. A Marvel não tem, necessariamente, roteiristas ruins, mas sim um apanhado de ideias feitas para satisfazer os fãs com aparições surpresas, quando deveria se concentrar em dar qualidade aos projetos ao mostrar histórias sólidas.
Multiverso da Loucura trouxe Sam Raimi, aclamado diretor de Evil Dead e claro, a trilogia do Homem-Aranha dos anos 2000. Como um nome com uma assinatura tão marcante pode ter feito um filme tão medíocre? Raimi estava preso a um roteiro besta, que tenta agradar os fãs ao inserir determinados personagens e desperdiçá-los minutos depois para dar uma sensação de poder para a vilã. E, no fim das contas, isso não serve para nada, já que esse mesmo roteiro recria um arco de redenção com frases de efeito de 20 anos atrás e um final ruim.
Do que adianta trazer bons diretores, como Sam Raimi, se esses cineastas estão presos a roteiros ruins? Além disso, não podemos esquecer dos "diretores sem inspiração" - para não dizer outra coisa - como Peyton Reed e Jon Watts. Reed fez filmes do Homem-Formiga tão esquecíveis que simplesmente nem parece haver um diretor por trás das câmeras. Watts comandou os três filmes do Homem-Aranha de Tom Holland, e tirando aquela participação especial em Sem Volta Para Casa, todos os três longas são completamente esquecíveis, com um ou outro acerto, e só servem para fazer fan-service barato.
É preciso ter inspiração, e não apenas reproduzir uma mera cópia de uma receita de bolo pronta fadada ao insucesso. Taika Waititi trouxe um refresco absurdo para Thor em Ragnarok, mesmo tendo tropeçado em Amor e Trovão. Já Ryan Coogler fez maravilhas trazendo o personagem Pantera Negra aos cinemas.
O fã precisa acabar
E mesmo com esses exemplos, mesmo que a Marvel já tenha tentado investir em obras diferentes e mais criativas, o fã sempre vai ser uma pedra no sapato. Chloé Zhao, vencedora do Oscar por Nomadland, foi criticada com o lançamento de Eternos por conta do filme ser "chato demais". She-Hulk sofreu um hate gratuito da internet por simplesmente ser uma série de comédia que em momento algum se leva a sério, e ainda faz piadas com os fãs Red Pills.
Até mesmo Ms. Marvel, que introduziu a tão esperada Kamala Khan, é considerada por muitos como um fracasso, quando, na verdade, a série nasceu como uma aventura para adolescentes, e tudo bem. A diversidade de produtos para públicos diferentes precisa existir.
Todos têm direito a ter uma opinião positiva ou negativa sobre o entretenimento. Esse texto, por exemplo, é totalmente baseado nas convicções e experiências do autor. O problema é quando visivelmente um estúdio tenta fazer algo minimamente diferente - sim, diferente, não inovador - e recebe ódio gratuito. Curiosamente, esse ódio quase sempre é destinado para produções muito específicas, feitas por pessoas específicas e personagens específicos.
Expectativa e realidade é um tópico que precisa ser colocado na mesa. Ninguém nunca disse que Ms. Marvel seria uma produção gigantesca. Nunca foi confirmado que o Mephisto iria aparecer em WandaVision ou em Multiverso da Loucura. Tudo isso são apenas teorias sem fundamento, e tudo bem, é ótimo teorizar. Mas concentrar suas expectativas em algo que nunca sequer foi prometido, e se frustrar por isso é totalmente culpa sua.
Mudanças a caminho
Durante o encontro dos indicados ao Oscar 2023, Steven Spielberg encontrou com Tom Cruise e agradeceu o ator por "salvar o traseiro de Hollywood" graças ao lançamento de Top Gun: Maverick. Quem diria que um filme sobre jatinhos iria abalar a indústria em 2022. E de fato, Maverick mostrou para os estúdios que o mercado de blockbusters bem feitos não morreu, resultando em uma bilheteria bilionária, e a aclamação de crítica e público.
O abalo foi tão grande, que mesmo antes da recepção mista de Quantumania, Kevin Feige e a Disney estavam revendo sua estratégia de distribuição para os lançamentos futuros tenham mais qualidade, e saiam em menor quantidade. Recentemente, Feige disse, em entrevista para a Entertainment Weekly, que a Marvel lançará menos séries por ano para que esses materiais possam se "destacar melhor". Em 2023, apenas Invasão Secreta e a segunda temporada de Loki devem estrear no Disney+.
Não dá para prever como as Fases 5 e 6 serão, mas Quantumania acendeu o alerta vermelho máximo, e a Casa das Ideias já está ciente disso. Menos lançamentos de filmes por ano, séries mais espaçadas, mais tempo para os roteiristas trabalharem, e menos pressão na produção de efeitos especiais são algumas diretrizes que devem ser seguidas.
Vingadores: Dinastia de Kang vai apresentar a nova formação dos Super-Heróis Mais Poderosos da Terra, enquanto Vingadores: Guerras Secretas deve fazer o fan-service do Multiverso e trazer todos os heróis de todos os universos para batalhar mais uma vez, e ser um óbvio sucesso de bilheteria — pelo menos é que a Marvel, e os fãs, esperam. O futuro não é muito animador, mas ainda dá tempo de consertar o MCU.
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