Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania traz Kang, mas não convence (crítica)
Desde sua estreia em 2015 no MCU, o Homem-Formiga sempre foi um personagem B do panteão de heróis da Casa das Ideias. Seu primeiro filme conta uma clássica história de origem, enquanto a sequência traz a parceira para o combate, expande as possibilidades e dava indícios de que algo maior seria feito no futuro. Bem, o futuro chegou com Quantumania, e embora seja divertido, o filme não consegue escapar apenas desse rótulo.
Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania finalmente leva o espectador para dentro do Reino Quântico e seus visuais maravilhosos, mas suas principal façanha é introduzir o próximo chefão responsável por infernizar a vida dos Vingadores: Kang, O Conquistador. O que deveria ser ótimo, é apenas legal, e mais uma vez prova que a fórmula Marvel precisa de ajustes.
Quantumania começa com Scott Lang (Paul Rudd) colhendo os frutos de uma vida mais pacata na cidade. O herói até escreveu um livro sobre sua jornada com os Vingadores, primeiros momentos com seu traje, e quanto tempo ele perdeu sem estar com sua filha, Cassie Lang (Katheryn Newton), que já é uma adolescente impulsiva.
Os primeiros minutos do filme lembram muito uma sitcom sobre família, mostrando o núcleo de Scott, Cassie, Hank Pym (Michael Douglas), Hope (Evangeline Lilly) e Janet (Michelle Pfeiffer), resgatada do Reino Quântico. Esse tom descontraído, como uma comédia dos anos 2000 faz com que Quantumania comece muito bem e de forma rápida.
Mesmo com boa química, Scott e Cassie não conseguem passar uma carga emocional tão grande ao público.Fonte: Marvel/Divulgação
A virada de chave acontece quando Cassie emite um sinal para o Reino Quântico através de um dispositivo que ela construiu, e acaba sugando toda a família para aquela dimensão misteriosa.
A fórmula Marvel continua cansada
O longa só da os passos principais para a história quando todos os personagens entram nesse Reino e acabam caindo em lugares diferentes. Na tentativa de se encontrarem, o enredo vai jogando explicações sobre aquele lugar, os habitantes e perigos, e revela mais sobre o passado de Janet, enquanto traz a eminente ameaça de Kang.
O problema é que tudo isso já foi feito milhares de vezes em inúmeras obras de ficção científica. Um grupo de desconhecidos vai parar em um ambiente que desafia as leis do espaço-tempo. Na busca pela sobrevivência, encontram um povo inicialmente hostil, mas que se revela aliado, e buscam uma revolução contra um tirano que espalha o terror sobre aquelas terras.
Quantumania até chega a lembrar Guardiões da Galáxia em termos estéticos.Fonte: Marvel/divulgação
Quantumania segue essa exata receita de bolo como catalisador para dar prosseguimento à história, e isso não é necessariamente um demérito para o filme. Se tantos outros usam isso, porque Homem-Formiga 3 não poderia? Afinal de contas, eu mesmo sou um grande defensor de clichês quando são bem feitos, e o longa ainda consegue fazer isso uma forma boa.
No entanto, este é o terceiro filme de um personagem que serve unicamente para introduzir a grande ameaça do Universo Cinematográfico da Marvel para até 2025, com Vingadores: Dinastia de Kang. O vilão que enfrentará a equipe de heróis mais popular das últimas décadas está nesse filme, logo, Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania não deveria ser apenas mais uma repetição de uma receita batida e carimbada pela indústria há anos.
Felizmente, o roteiro de Jeff Loveness (Rick e Morty) consegue ser tanto o ponto de equilíbrio do filme, quanto o seu principal problema - embora Jeff pareça não ter tanta culpa assim. O texto é simples, e por mais que o filme tenha 2 horas de duração, o ritmo é excelente, e passou muito rápido. Já no final eu senti uma sensação que tudo o que foi mostrado teve um bom tempo de tela e não foi algo maçante ou apenas jogado.
A ação é bem feita e alcança ótimos momentos de pancadaria, que, somado aos bons efeitos especiais, proporciona um entretenimento de boa qualidade para quem vai assistir. Ver o Homem-Formiga, a Vespa e Estatura diminuindo e aumentando de tamanho para vencer os inimigos diversas vezes, e de maneiras variadas, faz com que o resultado final seja positivo.
A história proposta por Loveness faz com que o filme tenha muita ação e não deixe o público cansado rapidamente.Fonte: Marvel/divulgação
Um dos antagonistas inferiores, MODOK aparece pela primeira vez neste longa. A máquina é bem bizarra, e é o ponto baixo do CGI, afinal, mostrar um homem de cabeça desproporcional sem parecer estranho é difícil. Ao mesmo tempo, esse vilão entrega cenas hilárias com Scott e Hank. É estranho, mas sem sombra de dúvidas é um destaque engraçado, só que parte do público pode não comprar essa ideia.
A construção de mundo do Reino Quântico é bem feita, e realmente lembra algum filme spin-off de Star Wars com diversos alienígenas, estruturas futuristas e coisas absurdas que só vendo para crer. O visual dos seres dessa dimensão são bem interessantes, passando uma vibe similar ao de algumas bizarrices presentes em filmes do diretor Robert Rodriguez saídos dos anos 90.
Com mais efeitos práticos, o Reino Quântico poderia facilmente servir como um planeta na série do Mandaloriano.Fonte: Marvel/divulgação
O CGI e os efeitos especiais não deixam a desejar, e, na verdade, são excelentes em 98% das vezes - os 2% restante ficam para a esquisitice de MODOK. Quantumania só existe por conta da tela verde e dos efeitos especiais, logo, esse elogio não passa de uma obrigação. Mesmo que os cenários sejam bonitos, é perceptível que o filme é artificial como tantos outros da Marvel. Ainda mais no Reino Quântico, seria muito bom ver uso de efeitos práticos para dar um peso maior a esta jornada, mas não foi dessa vez.
A direção de Peyton Reed, responsável pelos dois primeiros filmes, está mais madura e concisa. Nas poucas cenas em que é perceptível que os atores estão trabalhando em um cenário real, o diretor consegue passar a sensação de tranquilidade com elenco, fazendo com que todos estejam em sintonia.
Aliás, falando em amadurecimento, Quantumania acerta muito bem no tom de humor. Os anteriores eram engraçados, mas chegando no limite do aceitável. Já o terceiro filme é mais contido e sério, mas as piadas são fluídas e mais bem feitas. Não é nada espalhafatoso como Thor: Amor e Trovão nem nada sinistro como Thor: O Mundo Sombrio. As piadas funcionam no tempo certo e são bem divertidas.
Paul Rudd está mais dramático graças ao Kang de Jonathan Majors
E tudo isso nos leva para exploração dos núcleos dos personagens e as atuações. O núcleo familiar de Scott, Cassie, Janet, Hope e Pym funcionam bem, da mesma forma que deu certo nos dois filmes anteriores.
A Cassie de Kathryn Newton faz uma boa estreia, e o roteiro não se preocupou em dar a essa personagem todo um arco de treinamento para viver a heroína Estatura, ou nem mesmo força a dinâmica de filha que se afasta do pai. Scott e Cassie tem seus problemas, mas estes são resolvidos rapidamente e com inteligência.
Pfeiffer tem grande importância na história, mas acaba sumindo nos momentos finais para dar lugar à Vespa de Evangeline LillyFonte: Marvel/divulgação
Michelle Pfeiffer atua como um bom suporte no Reino Quântico, e felizmente este terceiro filme dá uma profundidade extra para a personagem. A Vespa pareceria meio escanteada da trama, até mesmo no material de divulgação, mas a personagem de Evangeline Lilly se sai bem no terceiro ato, assim como Michael Douglas e seu Hank Pym, ranzinza como sempre.
Paul Rudd dá um tom mais dramático a sua atuação devido à proporção dos atos, mas, em geral, o ator segura Scott Lang tranquilamente, e continua encaixando como uma luva no papel de Homem-Formiga.
Após aparecer no episódio final da primeira temporada de Loki como Aquele que Permanece, Jonathan Majors retorna para dar vida a Kang. Majors está muito bem no papel do vindouro super-vilão do MCU, conseguindo passar uma sensação de imponência, respeito e poder ao expectador. O ator consegue convencer, mas o roteiro não ajuda para que esse personagem fique marcado na memória.
Diferente do carisma de Thanos, Kang é mais pragmático e reservado.Fonte: Marvel/divulgação
Claro, esse não é o Kang com todo o seu esplendor de poderes, e esse vilão ultra poderoso só deve ser visto em 2025 contra os Vingadores. Mesmo assim, Kang é tão importante quanto ambíguo em Quantumania. Adaptar um personagem que viaja no tempo e possui milhares de variantes, como já foi dito em Loki, dá um nó na cabeça do público.
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Ao final do filme, meu questionamento se transformou em uma visível expressou de "E agora?". Mexer com múltiplas realidades, e versões distintas de diversos personagens já começa a ficar extremamente confuso no MCU. Como já disse há alguns parágrafos, o roteiro de Jeff Loveness não o problema como um todo, mas neste momento, a decisão da Marvel em colocar Kang como essa ameaça suprema não parece uma ideia tão genial assim. Em 2025 e 2026 saberemos o resultado disso, e eu espero estar completamente enganado.
Veredito
Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania diverte com suas cenas de ação, as belezas do Reino Quântico e as piadas bem feitas no tempo certo. Finalmente a franquia se desprendeu do núcleo urbano e passou para algo mais fantasioso. Porém, ao final daquelas 2 horas eu só sentia que era um filme OK. Um filme que funciona, na medida do possível, mas passa muito longe de ser uma obra extraordinária que terá inúmeras cenas marcadas no imaginário dos fãs.
Mais uma vez a Marvel entrega um Homem-Formiga que presta o seu papel, indo do ponto A ao ponto B sem fazer firulas, e consegue introduzir bem Kang, O Conquistador para o público das telonas. Porém, a fórmula cansada do MCU está em evidência, transformando o que poderia ser um ótimo filme, em algo apenas legal.
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