Por que Hollywood não faz mais comédias românticas como nos anos 2000?
De Repente 30, O Diário de Bridget Jones e Como Perder um Homem em 10 Dias. O que os três longas têm em comum? Resumidamente e sem ser surpresa para ninguém, o trio está entre as comédias românticas favoritas de muita gente – ou dos Millennials, pelo menos.
Além destes três, várias outras produções podem entrar nesta lista, é claro. Títulos destaque são Como Se Fosse a Primeira Vez (2004) e O Amor Não Tira Férias (2006), por exemplo. Outro ponto em comum é que todos eles foram lançados nos saudosos anos 2000.
Não tem como negar, o início do século foi marcado pelos anos dourados das comédias românticas. Na época, grandes nomes do cinema ficaram mais conhecidos por atuar neste tipo de filme, incluindo Julia Roberts, Sandra Bullock, Drew Barrymore, Ryan Reynolds e Hugh Grant.
Queda nas bilheterias e perda de interesse
Segundo Franthiesco Ballerini, crítico de cinema e autor do livro História do Cinema Mundial, são várias as razões que poderiam explicar o boom das comédias românticas na metade dos anos 90 e início dos anos 2000.
"Hollywood no século XXI começa com uma essência otimista do fim da guerra fria e da prosperidade da economia americana. Isso, é claro, se refletiu nos cinemas. Assim como aconteceu no pós-guerra dos anos 50", explica.
De Repente 30 é um dos maiores sucessos da carreira de Mark Ruffalo e Jennifer Garner
A verdade é que, de 2010 em diante, o gênero foi perdendo seu brilho nas bilheterias. Na lista das 50 comédias românticas de maiores bilheterias nos Estados Unidos, por exemplo, apenas um filme lançado nos últimos dez anos dá as caras nas primeiras posições. Podres de Ricos (Crazy Rich Asians), de 2018, aparece na 6ª posição, com arrecadação de $174 milhões no país.
Para fins de curiosidade, no top 3 estão Casamento Grego (2002), Do Que as Mulheres Gostam (2000) e Hitch (2005).
Já na bilheteria mundial, a tendência também é de queda. Para se ter ideia, a última vez que uma comédia romântica apareceu entre os dez filmes de maior bilheteria do ano foi em 2008, com Mamma Mia!. Antes disso, porém, filmes do gênero apareciam com certa frequência na lista de maiores bilheterias do ano – Diabo Veste Prada em 2006, Sr. & Sra. Smith e Hitch em 2005, Do Que as Mulheres Gostam em 2000 e Casamento Grego em 2002).
Com a queda de interesse do público neste tipo de história e o retorno financeiro sendo diretamente proporcionais, já era de se esperar que os grandes estúdios fossem diminuir as produções do gênero.
Matthew McConaughey e Kate Hudson ficaram mais conhecidos após estrelarem comédias românticas
A atriz Kate Hudson, um dos principais nomes das comédias românticas dos anos 2000, falou recentemente sobre o assunto. Para ela, a popularidade do gênero caiu devido à falta de histórias que sejam realmente boas.
"Acho que às vezes as pessoas pensam que as comédias românticas são só sobre o encontro fofo. Elas são, na verdade, sobre encontrar o amor, descobrir o amor, se apaixonar, se separar e, então, mostrar como os personagens voltam a ficar juntos. Essa é uma estrutura muito tradicional”, conta.
Ela afirma ainda que o gênero "emburreceu" com o tempo. “Acho que o problema é que as melhores comédias românticas são realmente muito difíceis de se fazer.”
E os streamings nisso tudo?
Franthiesco Ballerini acredita que o consumo de comédias românticas foi, na verdade, pulverizado pelos streamings. Isso por que, antes das plataformas de streaming, era muito mais fácil saber os filmes que estavam fazendo sucesso, já que as bilheterias eram o único termômetro de análise. Agora, não são todas as empresas de streaming que divulgam dados sobre os seus filmes mais assistidos, tornando esse tipo de análise mais nebulosa.
Barraca do Beijo e a adaptação Para Todos os Garotos que Já Amei, por exemplo, são alguns dos filmes mais populares da Netflix lançados nos últimos cinco anos. Em contrapartida, outras plataformas de streaming, como Amazon Prime Video, HBO Max e Disney+, divulgam apenas os resultados pontuais de filmes e séries.
- Confira também: 14 comédias românticas ruins que, na verdade, são muito boas
Mudança de cenário
Ao longo dos anos 2000, vimos o cenário do mercado cinematográfico ganhar novos ares. As superproduções ganharam força, com os filmes de super-heróis e o ressurgimento da tecnologia 3D. Com tanta inovação tecnológica para conferir nas telonas – principalmente após o lançamento de Avatar, em 2009 – os clichês das comédias românticas foram perdendo espaço no coração do público.
Além disso, o avanço de pautas sociais fez o público mais jovem questionar as abordagens ultrarromânticas e os finais felizes (sem contar a falta de representatividade) dos romances. Se antes as pessoas buscavam nos filmes uma fuga do mundo real, atualmente o papel parece ter invertido.
Bons exemplos de filmes "reais" são os ótimos (500) Dias com Ela (2009), La La Land (2016) e a série Normal People (2020).
Normal People aborda as complexidades dos relacionamentos amorosos
Estudante de Produção Audiovisual, Jaqueline Villatore, de 23 anos, confirma que é fã dos romances com abordagens mais próximas da realidade.
“Cresci assistindo filmes em que absolutamente tudo dá certo no final para o casal protagonista. Tudo acaba bem, seja no relacionamento, no trabalho, no círculo social… Isso não transmite verdade, mas uma ideia de algo inalcançável”, explica, alegando que um bom filme de romance, para ela, deve mostrar também as complexidades do relacionamento e dos personagens.
Luz no fim do túnel
Mas se você é fã das comédias românticas, não se desespere. O gênero não morreu e dificilmente irá. Analistas de cinema indicam que uma nova fase desse tipo de filme está começando a surgir no horizonte - e, ainda bem, chegará com mudanças significativas no quesito diversidade.
Podres de Ricos e Fire Island: Orgulho & Sedução são bons exemplos de comédias românticas que conseguiram trazer diversidade no elenco, além de tramas realmente boas. Ambos têm, inclusive, ótimas aprovações no Rotten Tomatoes, com 91% e 94%, respectivamente.
Ao que tudo indica, as comédias românticas têm tudo para voltar a crescer – se continuarem investindo em histórias diversas. Agora, resta esperar... Ou assistir pela milésima vez um filme com a Sandra Bullock.
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