Breaking Bad: qual é o significado do episódio da mosca? (análise)
Breaking Bad. Se você é fã de séries, tenho certeza de que você já assistiu ou, pelo menos, ouvir falar dessa obra.
Afinal, Breaking Bad é considerada por muitos, inclusive por este que vos escreve, uma das melhores séries de todos os tempos.
E não é à toa, já que o seriado tem uma trama muito interessante, personagens excelentes, além de uma direção maravilhosa, ótimos roteiros e por aí vai.
A real é que eu poderia ficar exaltando Breaking Bad o texto todo, falando de vários aspectos diferentes da série, mas, desta vez, vou focar em um dos episódios mais polêmicos da produção.
Estou falando do famigerado episódio da mosca, o número 10 da 3ª temporada, que até hoje divide opiniões dos fãs.
O episódio da mosca é um filler? É uma trama bobinha, só para estender ainda mais a narrativa? É bom ou não? Será que há algo além do que parece nessa história?
Bem, eu revi o episódio da mosca de Breaking Bad há pouquíssimo tempo e resolvi fazer uma análise completa dele, já que ele é tão marcante na trajetória do seriado.
Então, prepare-se, pois chegou a hora de entendermos juntos o significado desse episódio polêmico de Breaking Bad!
>>> ASSISTA:
Aviso aos aventureiros: para falar do episódio da mosca de Breaking Bad, precisarei entrar em território de SPOILERS. Portanto, se você não assistiu a série ainda, salve o texto e o vídeo para consumir depois, ok?
Breaking Bad: desvendando o episódio da mosca
Antes de começar, apenas atento para que esta análise não retrata a verdade absoluta de nada, ok?
Até porque, em minha opinião, isso não existe dentro de uma obra artística, já que uma das funções da arte não é oferecer um caminho claro e único, mas, sim, vários caminhos, que geram diferentes interpretações, visões e debates.
Dito isso, o episódio da mosca de Breaking Bad, em minha análise, gira em torno de um tema central: culpa.
A mosca, nesse sentido, não passa de um simbolismo para a culpa que Walter White tem sentido em relação às escolhas que tomou até aquele ponto da série.
E, aqui, destaco duas dessas escolhas: a primeira decisão equivocada do protagonista foi a de deixar Jane, que era namorada de Jesse Pinkman, morrer sem fazer absolutamente nada para ajudá-la.
Já a segunda escolha tem mais a ver com o próprio Walter, que seria a decisão máxima de ter entrado de cabeça para o mundo das drogas e as consequências disso na relação com a sua família.
Essas duas decisões gigantescas passam a assombrar e incomodar Walter, assim como uma mosquinha chata, que fica indo e voltando, zumbindo no seu ouvido sem parar.
Você até tenta esquecer que ela está no ambiente, desvia sua atenção para as coisas que você está fazendo, mas, cedo ou tarde, a mosca volta para te incomodar.
E perceba que isso não acontece sempre. Porque nem sempre Walter está nesse estado de culpa ou de incômodo.
Para entender melhor, é só pensar em como você reage às coisas. Nem sempre você está feliz, nem sempre você está triste. Nem sempre você está se sentindo ansioso, nem sempre você está relaxado. Tudo depende do dia e das coisas que estão acontecendo ao seu redor.
Portanto, esse episódio engloba um dia da vida de Walter no qual ele parece tomar mais consciência das consequências de suas escolhas e acorda assim: incomodado, reflexivo, nervoso e, claro, se sentindo culpado.
Breaking Bad (AMC/Reprodução)
E não que Walter já não se sentisse assim antes, mas, até então, ele conseguia se controlar melhor, já que ia guardando isso dentro de si mesmo e mascarando tudo com mentiras, fossem para os outros ou para ele mesmo.
Mas como não somos robôs, e nem Walter, mesmo ele sendo um personagem fictício, o poderoso Heisenberg, finalmente, desaba e as aparências caem por terra.
E isso tudo se manifesta por meio desse símbolo, que é a mosca, que não deixa o protagonista em paz durante todo o episódio e o dia horrível que ele está tendo.
Mesmo quando Jesse consegue matar a mosca, no fim, as coisas não se resolvem, já que, quando Walter volta para casa e tenta dormir, quem está lá de novo, piscando na luz do quarto? Ela mesma: a mosca.
Ou, melhor dizendo, a culpa que Walter carrega, que não vai embora tão cedo, independente de onde ele estiver.
E há muitos elementos legais nesse episódio que enriquecem ainda mais a narrativa e a ideia que Vince Gilligan, o criador de Breaking Bad, quis trabalhar.
O mais interessante deles, para mim, está na própria fala de Walter, quando ele fica insistindo na ideia de que o laboratório está todo “contaminado” e que nada pode ser feito até que essa “contaminação” acabe.
Contudo, essa tal “contaminação” não passa de uma metáfora para o próprio Walter, que estaria contaminado com a culpa e, por conta dela, não conseguiria seguir em frente.
Por isso, ele fica dizendo para Jesse que não pode seguir trabalhando e que eles não podem fazer nada enquanto esse “problema” não for resolvido.
Todavia, é claro que nada vai ser resolvido, já que o grande problema é interno e não externo.
Tanto que o único alívio, digamos assim, que Walter tem no episódio todo só vem depois de ele pedir desculpas para Jesse em relação à Jane.
Ele não confessa com todas as letras que deixou Jane morrer, obviamente, mas pede perdão e deixa alguns comentários meio vagos aqui e ali, expurgando um pouquinho dessa culpa que está transbordando dentro dele.
Inclusive, depois de pedir desculpas, Walter finalmente consegue dormir um pouco e, depois, seguir em frente.
Esse episódio também apresenta diálogos muito bons e alguns monólogos excelentes, que são uma marca registrada da série.
E como o roteiro de Breaking Bad é bom nisso, não é? A forma como a obra coloca seus personagens em um estado de reflexão profunda e traz tudo o que eles estão sentindo para fora por meio de discursos que sintetizam seus sentimentos é uma arte. Um primor.
Esses discursos, aliás, nunca são jogados de maneira desleixada na narrativa ou denotam superficialidade e previsibilidade. Muito pelo contrário.
Geralmente, são histórias cheias de detalhes e minúcias que criam uma atmosfera e que trazem o espectador para perto dos personagens. Quase como se um amigo ou amiga estivesse te contando algo pessoal mesmo.
Algo que é reforçado e ganha ainda mais potência com as ótimas atuações da série, que tem um elenco maravilhoso.
Breaking Bad (AMC/Reprodução)
Conclusão
Enfim, o episódio da mosca de Breaking Bad pode ser visto como um filler, se você enxerga dessa maneira, mas acredito que ele seja muito mais do que isso.
É um episódio que, em vez de servir como um respiro, só nos faz lembrar das coisas pesadas que já aconteceram na narrativa e de como os protagonistas estão cada vez mais sufocados por suas próprias escolhas.
É um grande estudo de personagens também, pois nos apresenta faces diferentes de Walter, Jesse e da relação conturbada entre os dois, sempre permeada por amor, ódio, culpa, segredos e ressentimentos.
Por fim, é um episódio que mostra também a capacidade mais poética da narrativa de Breaking Bad, que está cheia de metáforas e simbolismos muito bem desenvolvidos ao longo de sua duração.
Porém, como nós já sabemos, o fim dessa história não é nada feliz.
Afinal, tragédia, omissão, culpa e escolhas erradas ou equivocadas são questões que perseguem os personagens de Breaking Bad até o fim, feito uma mosquinha chata no ouvido.
Categorias