Séries: 5 produções para acompanhar o amadurecimento dos personagens
Dentro da literatura, há um tipo de livro bastante tradicional que se costuma chamar de “romance de formação” (no original, em alemão, chama-se bildungsroman; já em inglês, o gênero é denominado coming of age). Basicamente, tratam-se de romances em que um aspecto central do enredo é o crescimento dos personagens, que saem da adolescência ou da infância rumo à vida adulta, com todas as dificuldades que envolvem essa passagem.
Várias obras tocantes costumam surgir dentro deste estilo. Afinal, não tem quem não se identifique com as dores e as delícias da época do amadurecimento, que costuma trazer muitos traumas (no sentido literal de quebras, de mudanças de perspectiva) nas nossas vidas.
Mas saiba que há várias séries de TV que – intencionalmente ou não – operam como se fossem romances de formação transferidos para as telas. Durante anos, estas séries nos oferecem narrativas focadas em tramas familiares e nos fazem encarar, de maneira comovente ou cômica, que talvez este período da passagem para a vida adulta tenha sido um dos melhores das nossas vidas.
Neste texto, trazemos 5 séries para você recordar ou reassistir. Confira!
1. Anos Incríveis
(Fonte: US Magazine)Fonte: US Magazine
É impossível iniciar este texto sem mencionar a mais clássica das séries de formação: a comovente Anos Incríveis, da NBC. Durante seis temporadas exibidas entre 1988 e 1993, acompanhamos o crescimento de Kevin Arnold, de seus irmãos e de seus amigos (especialmente Paul e sua namorada Winnie Cooper).
A série se iniciava nos anos 1960 e tinha como subtexto paralelo as mudanças culturais que transcorriam nos Estados Unidos neste período: a Guerra do Vietnã, os movimentos de contracultura, o Festival de Woodstock, as bandas de rock, entre tantos outros eventos.
O roteiro primoroso, que fazia Kevin narrar em off sua história a partir do seu olhar como homem adulto, fez com que Anos Incríveis se tornasse uma série que até hoje é muito querida no mundo todo.
2. Todo Mundo Odeia o Chris
(Fonte: Hollywood Reporter)Fonte: Hollywood Reporter
Já no gênero de humor, temos outro clássico, este mais recente: Todo Mundo Odeia o Chris, a série escrita pelo comediante Chris Rock a partir de suas experiências pessoais enquanto crescia em Nova York nos anos 1980. Ela foi produzida pela CBS e suas quatro temporadas foram ao ar entre 2005 e 2009.
Todo Mundo Odeia o Chris, diferente de Anos Incríveis, traz um recorte racial: ela foca na realidade de uma família negra que rala muito para conseguir ter uma boa condição de vida. Os pais de Chris, aliás, são figuras inesquecíveis: Rochelle (Tichina Arnold) morre de medo que os três filhos se envolvam com gangues ou com drogas, e Julius (Terry Crews, de Brooklyn Nine-Nine) se mata de trabalhar em dois empregos e é extremamente sovina, o que gera muitas situações cômicas.
A série virou também um hit e está entre as comédias que mais repercutiram na cultura popular – a ponto de que, treze anos depois de seu fim, ela segue sendo repetida sem parar na TV aberta, inclusive no Brasil.
3. My So-Called Life
(Fonte: Pinterest)Fonte: Pinterest
My So-Called Life (no Brasil, ela foi chamada de Minha Vida de Cão e transmitida pelo Multishow) é uma série um tanto obscura por uma razão simples: ela era excelente e durou apenas uma temporada, deixando todos os fãs desiludidos, pois a história foi interrompida no meio. Produzida pela ABC em 1994, ela trouxe para televisão dois atores que mais tarde se tornariam astros: Claire Danes (que tinha 16 anos) e Jared Leto (que tinha 23).
A série colocava o foco na vida de Angela Chase (Claire Danes), uma estudante de ensino médio. Ela é uma menina comum que está enfrentando problemas recorrentes da adolescência: a dificuldade na convivência com os pais, a paixão platônica por um menino popular, as brigas com os amigos, a sensação incontornável da solidão. A ótica sobre estes assuntos é extremamente tocante, e nos faz lembrar do quanto esta época costuma ser difícil.
Para completar, a série trouxe, em 1994, vários temas que, na época, eram bem raros de serem abordados na TV, como drogas, homofobia e o preconceito racial. Se você tiver curiosidade de conferir, a única temporada de My So-Called Life está disponível na plataforma Disney Plus.
4. Caras & Caretas
(Fonte: Rotten Tomatoes)Fonte: Rotten Tomatoes
Antes de Anos Incríveis, houve outra série familiar que trazia como um dos temas centrais o crescimento de três filhos de uma família. Ela se chamava Caras & Caretas (no original, Family Ties) e tinha como protagonista o jovem ator Michael J. Fox, antes de ele estourar com a franquia De Volta para o Futuro.
Produzida pela NBC, Caras & Caretas durou 7 temporadas entre 1982 e 1989. Ela fez um sucesso tremendo ao trazer dois pais que são antigos hippies, e que criam três filhos bem diferentes: Alex (Michael J. Fox) é super ambicioso e empreendedor; Mallory (Justine Bateman) é mais vaidosa e interessada em moda; e Jeniffer (Tina Yothers) é uma menina moleca.
Muito do humor da série se concentra em fazer um comentário sobre o embate entre gerações: os filhos, crescendo nos anos 1980, rejeitam os ideais de contracultura que foram abraçados pelos seus pais e têm motivações mais materialistas. Tudo isto é feito com muito humor.
5. Two and a Half Men
(Fonte: Veja)Fonte: Veja
Pode parecer estranho colocar Two and a Half Men nesta lista. Mas destaco aqui dois aspectos. O primeiro é que um dos personagens (a “metade” do título da série) é o menino Jake (Angus T. Jones), que foi crescendo durante as 12 temporadas (ele deixou a série na temporada 10). Por isso, acompanhamos o desenvolvimento de Jake, que foi de uma criança sem noção para um adolescente igualmente sem noção.
Mas lembro também que há outro “adolescente” na série: o protagonista Charlie Harper (vivido por Charlie Sheen), um homem adulto que tem comportamentos imaturos e sexistas quase sempre – este, aliás, é o principal mote do humor de Two and a Half Men.
Mas um olhar mais atento ao roteiro e aos episódios faz a gente notar que a série é completamente atravessada pelo tema da dificuldade de Charlie em crescer – o que normalmente se traduz como uma reação à convivência traumática com a mãe.
A julgar do que se acompanhava da sua vida fora da série, parece que o papel tinha tudo a ver com o próprio Charlie Sheen.
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