Thor: Amor e Trovão acerta com fórmula de Ragnarok (crítica com spoilers)
A Marvel parece estar um pouco perdida na Fase 4 de seu Universo Cinematográfico. Quem acompanha os filmes da saga há bastante tempo pode se sentir um pouco confuso com filmes de naturezas tão diferentes entre si, como Eternos, Homem-Aranha: Sem Volta para Casa e Doutor Estranho no Multiverso da Loucura.
E se você acha que Thor: Amor e Trovão pode dar uma luz sobre o que Kevin Feige tem na cartola para o futuro, você está poderosamente errado.
Porém, isso não significa que a Marvel tenha feito trabalhos ruins recentemente — inclusive, Thor: Amor e Trovão é uma agradável adição ao plantel do estúdio. Ele, de fato, é uma aventura solo do Deus do Trovão (com o perdão pelo trocadilho com a trilha sonora cheia de solos de guitarra), e não poderia ser mais a cara do diretor Taika Waititi, que traz novamente para as telas sua “recriação” do personagem que felizmente o afastou de filmes mais aborrecidos como Thor e Thor: Mundo Sombrio.
Qual é a história, afinal?
Em Thor: Amor e Trovão, o deus asgardiano está distante da Terra, tanto se aventurando na companhia de seus novos parceiros, os Guardiões da Galáxia, quanto em uma busca espiritual meditativa para se entender melhor no Universo após os eventos de Vingadores: Ultimato.
Um pedido de socorro de sua antiga amiga Lady Sif o leva a descobrir a mais nova ameaça que vai acabar enfrentando: Gorr, o Carniceiro dos Deuses, um ser comum que ganha poderes ao se apossar da Necroespada e sai descontando toda sua decepção e ódio pelos deuses matando um por um.
Paralelamente, o antigo amor de Thor, a astrofísica Jane Foster, descobre que seu estado de saúde debilitado por causa de um câncer pode ser amenizado — na verdade, anabolizado — ao tomar posse do martelo Mjölnir, ex-fiel companheiro do Deus do Trovão outrora destruído por Hela em Thor: Ragnarok.
Com tudo isso, eles precisam obter uma arma poderosa de Zeus na cidade dos deuses para resgatar crianças asgardianas sequestradas por Gorr e impedir que o Carniceiro dos Deuses cause ainda mais males no Universo.
Thor e Taika, os donos do filme
Chris Hemsworth e Taika Waititi na estreia de Thor: Amor e Trovão em Sydney. (Fonte: gettyimages)
Apesar das grandes participações, quem toma a tela quase o tempo todo é o próprio Chris Hemsworth como Thor, que vive um arco muito bem montado de autoconhecimento e amadurecimento. Os Guardiões da Galáxia — infelizmente — têm poucos minutos de tela no começo da história, e a boa química entre o grupo e o herói asgardiano, tão bem mostrada em Vingadores: Ultimato, não tem seu potencial desenvolvido.
A Poderosa Thor de Jane Foster (ou Jane Fonda, ou Jodie Foster, de acordo com o sempre sensacional Korg — entendedores entenderão!) brilha muito com a atuação sempre impecável de Natalie Portman, mesmo com uma “história de origem”, se é que podemos chamar assim, meio apressada e sem muitas explicações que façam sentido: afinal, como e por que diabos o Mjölnir resolve, do nada, “se remontar” e voltar a funcionar novamente?
A trama é basicamente uma comédia cheia de maluquices divertidas como foi Thor: Ragnarok. Waititi não só apostou novamente na fórmula do antecessor como ainda botou mais de seu estilo, fazendo de Thor: Amor e Trovão um trabalho tão seu quanto Doutor Estranho no Multiverso da Loucura é um filme de Sam Raimi.
Dá para respirar aliviado ao ver que a Marvel tem dado certa liberdade criativa para seus diretores, evitando, assim, cair numa “mesmisse” de filmes repetitivos que só mudam trama e personagens.
Mas nem só de comédia vive o filme: o drama fica por conta da personagem Jane Foster, que repete a história dos quadrinhos enfrentando um câncer. Seu dilema é justamente o uso do Mjölnir, que a transforma em uma super-heroína poderosa, mas anula os efeitos de sua quimioterapia, fazendo com que fique cada vez mais doente em sua forma humana.
Apesar da ótima atuação de Portman, quem rouba a cena como coadjuvante de Thor: Amor e Trovão é a Valquíria de Tessa Thompson, como já aconteceu no filme predecessor. Sua presença em cena é sempre marcante, divertida e cheia de carisma.
O maior de todos os ateus
Chrstian Bale é Gorr, o Carniceiro dos Deuses. (Fonte: Disney/Divulgação)
Gorr, o Carniceiro dos Deuses, vivido por um Christian Bale que é quase irreconhecível quando o vilão está em um estágio mais avançado em sua busca por vingança, talvez seja o melhor vilão até agora das aventuras solo de Thor. Temos ali uma ótima motivação que, mesmo sendo mostrada muito rapidamente no começo da história, é convincente e simples: “bora acabar com esse bando de deuses arrogantes, manipuladores e cruéis que vivem por aí no Universo?”.
Mesmo tendo uma história dramática e sendo retratado sempre de maneira sombria, em cenas escuras e com visual monstruoso, Gorr também tem seus momentos de alívio cômico, como quando age feito um bicho-papão para as crianças que sequestrou.
Isso traz uma humanidade para o vilão que acaba dando uma profundidade maior para o personagem, pois quem assiste acaba nunca esquecendo que antes de ser aquele monstro cruel, Gorr era apenas um pai que perdeu sua filha e foi esnobado e humilhado por quem era recipiente de toda sua devoção.
A história termina de maneira triste, porém singela, com um Thor mais maduro — simbolizado pela nova responsabilidade que tem agora em cuidar da filha renascida de Gorr. Um leque enorme de possibilidades se abre diante do Deus do Trovão e tudo vai depender, claro, de como a Marvel vai conduzir seus próximos filmes dentro desse universo que se torna cada vez mais amplo e complexo, cada vez com mais filmes e séries.
As cenas pós-créditos também não trazem ligações com nada externo ao mundo de Thor — mostram apenas quem pode ser um possível futuro vilão para, quem sabe, um Thor 5 (e quem está por dentro das HQs do deus asgardiano vai adorar!) e um lindo — e mais do que merecido — reencontro próximo dos salões de Valhala.
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