Logan: o que achamos do último filme do Wolverine (crítica)
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Todos os grandes personagens podem ser definidos em uma ou duas palavras. Wolverine: sobrevivente e caçador. Esse sempre foi o núcleo do mutante canadense na Marvel Comics e demorou até que os fãs finalmente ganhassem um longa que fizesse jus ao personagem.
Dezessete anos, para ser mais exato. Logan é uma declaração de amor ao mais popular X-Man, uma mistura de faroeste,road movie e filme de herói em uma narrativa selvagem, sanguinolenta e emocionante.
Aqui, o contexto é bem diferente dos dias em que ainda existia uma Escola para Jovens Superdotados: a história acontece em um futuro quase apocalíptico, em que os Filhos do Átomo não existem mais e há muito tempo não nasce alguém com o gene X — o responsável pelos poderes a partir da adolescência.
James “Logan” Howlett (Hugh Jackman) deixou para trás os dias de aventura e vive como um ordinário chofer de uma limusine. Visivelmente debilitado, ele guarda os trocados que ganha para ajudar o nonagenário Professor Xavier (Patrick Stewart), que sente o avanço da idade e agora paga o preço por ter uma das mentes mais poderosas mundo. O rastreador Caliban (Stephen Merchant) atua quase como um enfermeiro e tudo muda no cotidiano do trio com a chegada de uma garota furiosa e extremamente poderosa, bastante parecida com um certo carcaju.
Muito sangue e desmembramento
Ainda que rumores indicassem uma versão de Logan para menores, é indiscutível a importância da faixa etária para maiores no sucesso do filme. Não somente para que todo mundo finalmente pudesse ver a versão “berserker” de Wolverine mas também para que James Mangold pudesse fazer algo como Os Imperdoáveis: um faroeste, sem a necessidade de métricas narrativas para adolescentes, com romances ou finais felizes.
Tudo é muito cru e mais pé no chão do que qualquer X-Men. Obviamente temos elementos da franquia, contudo, o tom é intimista e a missão da história faz jus às batalhas perdidas do western, com direito ao herói anônimo que tem seu próprio código de honra. Ao invés do carinho entre Charles Xavier e Logan, o que vemos é muita discussão e questionamentos, ambos em seus momentos mais falíveis nas telonas.
Mangold aprendeu com tudo o que deu errado em Wolverine: Imortal e preferiu se concentrar em temas mais próximos da realidade, como o envelhecimento e a solidão. Assuntos que ele mostrou estar à vontade em produções que dirigiu no passado, a exemplo da cinebiografia de Johnny Cash, Walk the Line, e do remake do western Os Indomáveis.
Família desajustada
O grande charme dos X-Men sempre foi o fato deles serem como uma família desajustada. E essa tradição se aplica aqui também, especialmente com a chegada da X-23. Como todo mundo notou em trailers ou em cartazes, Wolverine tem, digamos, uma versão mais jovem. E assim vemos Logan atuando como um filho de Xavier enquanto reluta em assumir a função de pai de Laura Kinney — que está sensacional.
Aqui é preciso engrandecer Hugh Jackman, que entendeu como ninguém essa dinâmica e traduziu isso de uma forma tocante. É emocionante ver em suas expressões tudo o que ele passou nesses 17 anos no papel e qual é a importância de levar o personagem para a próxima geração.
Aquela versão “macho alfa” não faz mais sentido há muitos anos e é muito bom ver no cinema o mesmo que os quadrinhos fizeram: mostraram ao longo das últimas temporadas que os temas e o núcleo do personagem podem ser universais, independente de idade e gênero. Resultado: nas HQs, Wolverine é atualmente X-23, ao lado do velho Logan. E isso, felizmente, está presente da melhor maneira possível no filme.
Conexão com o universo X
“Tá, mas o que isso tem a ver com o resto dos filmes?” Bem, o próprio diretor afirmou que esse é um futuro que pode ou não vir a acontecer na atual cronologia dos mutantes no cinema. Ainda que pareça uma realidade alternativa, tudo se conecta com os últimos longas, principalmente com
X-Men: Dias de um Futuro Esquecido.
Cena pós-crédito de "X-Men: Apocalipse", que se conecta com "Logan"
Aliás, o centro da trama, que explica o nascimento da X-23, tem tudo a ver com uma cena pós-crédito de X-Men: Apocalipse. Além disso, várias outras passagens citam eventos que aconteceram no primeiro X-Men e em outros capítulos. Há referências para todos.
Para os leitores, há uma mistura do arco “Velho Logan” e a briga do canadense contra os Carniceiros, da fase noventista de Chris Claremont e Marc Silvestri. Tudo com uma personalidade própria, algo que a Fox parece ter aprendido com o Marvel Studios.
Vilões? Que vilões?
Bem, nem tudo saiu tão bom assim e, para variar, os antagonistas deixam muito a desejar. Mesmo que Donald Pierce (Will Boyd Holbrook) tenha um charme maior do que sua versão de papel, a falta de um vilão decente parece ser a grande maldição dos filmes da Marvel, independente se venha da Fox Films ou do Marvel Studios.
Aqui não é diferente e há até uma surpresa para tornar a vida de Logan ainda mais difícil, mas ainda assim é muito pouco perto da galeria dos quadrinhos. Isso não chega a ser um pecado, afinal de contas, desta vez a jornada dos protagonistas por si só já é mais interessante do que o conflito entre o Bem e o Mal.
Vale a pena?
Logan é o filme que todos os fãs esperavam há anos e traz suas melhores facetas: a de herói anônimo western com seu próprio código de honra, a de guerreiro indomável e impiedoso e a de tutor superprotetor (alguém se lembra de sua relação com Kitty Pride e Jubileu?).
É a honrosa despedida de Hugh Jackman e a celebração do personagem para todos, inclusive com uma versão tão interessante quanto a original, a X-23. Ainda que não seja a diversão para a família que muitos gostariam — é um filme para maiores—, essa é a melhor adaptação do herói mutante em toda sua trajetória no cinema.
O longa estreia no dia 2 de março nos cinemas brasileiros.
Via TecMundo.
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