Mr. Robot mantém genialidade em narrativa subversiva na terceira temporada
Mr. Robot é um daqueles casos raros de sucesso que surpreendem por ser um projeto inesperado, mas de imensa qualidade por tanto tempo. Sua terceira temporada possui a mesma excelência das anteriores, dando o tom dramático esperado para uma trama que se torna cada vez mais grandiosa e complexa por todas as conexões que ela faz. Muito mérito disso está nas mãos de Sam Esmail, criador e produtor executivo da série que a mantém como uma das produções televisivas mais geniais da atualidade.
Na trama, todas as partes envolvidas na revolução que é iniciada nos anos anteriores começam a participar de um jogo de xadrez ainda maior. Dark Army, FBI, E Corp e fsociety estão em um tabuleiro em que cada movimento feito muda ainda mais a sociedade mundial, ao mesmo tempo que cada indivíduo importante no Five/Nine Hack tem sua vida colocada em risco pelas vontades de pessoas poderosas.
Sam Esmail faz de Mr. Robot uma obra de reflexão sobre como funciona o mundo atual, seja pelos fatores econômicos, sociais ou tecnológicos. Esses elementos estão em cada ponto de analogia à atualidade, de forma escancarada com as relações de dinheiro e informação, ou quando ele vai além e apresenta os conceitos políticos que envolvem os Estados Unidos, ao mostrar a ascensão de Trump à presidência do país e a forma como isso traz malefícios a outros povos.
Enquanto aponta o dedo para questões sociais, a narrativa do terceiro ano ainda evolui cada personagem, além de incluir novas faces. Elliot (Rami Malek) amplia suas questões de dupla personalidade conforme tenta lidar com a visão que tem do próprio pai; Angela (Portia Doubleday) perde-se com a loucura dos planos de que aceita participar; Wellick (Martin Wallström) ganha profundidade ao sabermos o que houve com ele no seu hiato; Darlene (Carly Chaikin) tenta resolver o problema dos seus próprios atos. Isso demonstra que o roteiro consegue dar ritmo à grande história sem deixar na lixeira as pessoas que a envolvem.
O terceiro ano ainda traz um ar muito mais emotivo que antes não havia. Conforme as maquinações começam a ficar ainda mais megalomaníacas e se torna impossível que todo mundo sobreviva aos planos dos poderosos, o espectador vai se sentindo cada vez mais inseguro sobre o futuro dos personagens. Essa dramaticidade se mostra ainda mais latente quando uma cena de tortura psicológica se torna sanguinolenta.
Apesar de ter uma fotografia muito escura em diversas cenas, ela não é um empecilho, já que isso faz parte do estilo adotado desde o começo. Essa é uma das características que dão cara à série, assim como o uso propício de elementos culturais e trilha sonora para dar clima aos eventos da história. “Touch”, da dupla Daft Punk, consegue descrever com precisão os sentimentos que permeiam dois personagens que estão sofrendo com seus próprios objetivos, então ela é o fundo sonoro que envolve a conversa entre eles. Esses elementos narrativos ganham mais força no plano sequência que é usado no quinto episódio, fazendo com que todo o caos presente na tela tenha mais vida e cause aflição.
Sam Esmail já avisou que a série só deve ter cinco temporadas e é perceptível isso conforme a trama avança para situações mais conflituosas, mas não se esgota em nenhum momento. Ele dá ritmo, significado e importância para cada elemento que reflete os pontos sobre a realidade do nosso mundo, enquanto trabalha as personalidades dos personagens, garantindo espaço para que Rami Malek e Christian Slater deem uma aula de atuação em seus confrontos internos. Mr. Robot se mantém subversiva em trama e narrativa para retratar assuntos que são complexos, mas se torna compreensível na mente conflitante do genial Elliot.
Este texto foi escrito por Gustavo Rodrigues via N-experts.
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