A Forma da Água: alteridade e romantismo no favorito ao Oscar 2018 (crítica)

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Ao assistir ao novo filme do diretor mexicano Guillermo del Toro, é fácil entender – em grande parte – as 13 indicações que recebeu ao Oscar 2018.

A Forma da Água é uma obra sensível, visualmente deslumbrante e com uma marca autoral e artística bem definida. O cineasta constrói uma história de amor bastante peculiar baseada na alteridade e no olhar sobre o outro.

Através da criatura mística capturada e levada a um laboratório norte-americano em plena Guerra Fria, del Toro simboliza o preconceito sofrido por muitas minorias – seja de base étnica, racial, religiosa ou de orientação sexual.

Sally Hawkins como a protagonista Elisa em A Forma da Água. Fonte da imagem: Divulgação/Fox Searchlight

Isso fica claro pelo pequeno grupo que se propõe a ajudar “a forma” a escapar de seus captores: a protagonista muda, o pintor homossexual e a funcionária negra. Todos veem na criatura um pouco de seu sofrimento, seu sentimento de injustiça e incompreensão.

Sally Hawkins tem uma intepretação incrível e inesquecível como Elisa, personagem que carrega cicatrizes em seu pescoço e se comunica – magnificamente, vale dizer – apenas por sinais e expressões.

A relação que se estabelece entre Elisa e a estranha criatura é imageticamente representada por del Toro, entre outras coisas, por olhares, pelo toque e pelas marcas que carregam em seus corpos – além de uma conexão direta (e sexual) com a água.

A relação entre Elisa e a "forma" se fortalece pelas marcas que carregam em seus corpos. Fonte da imagem: Divulgação/Fox Searchlight

Esse conjunto de elementos e objetos significantes, tratados com muita beleza e sofisticação pelo cineasta, diferencia a obra de outros contos ou fábulas sobre amor e preconceito. E é extremamente gratificante ver um filme que critica a brutalidade cultural norte-americana conquistar tanto reconhecimento pela Academia.

Por outro lado, a badalação em torno de A Forma da Água pode ser um tanto exagerada. O longa tem, incontestavelmente, muitas qualidades: desde sua fotografia e direção de arte, passando pela lindíssima trilha sonora e a direção caprichada de del Toro (que se faz sentir no passeio da câmera pelos cenários). No entanto, é possível que tenha faltado ao filme um pouco mais de sofisticação em seu roteiro.

Isso porque há uma caracterização um tanto unidimensional dos personagens coadjuvantes, como o vilão que persegue incansavelmente a criatura (exatamente por quê?) e até mesmo os amigos de Elisa, que funcionam mais como representações de estereótipos. Octavia Spencer, por exemplo, é uma das melhores atrizes em atividade, mas seu papel nesse filme – ainda que indicado ao Oscar – parece quase caricato e instrumental.

Ao mesmo tempo, A Forma da Água poderia se beneficiar de uma crítica mais incisiva sobre a cultura militar (e paranoica) dos Estados Unidos com uma contextualização mais moderna, política e atual. Mas esses são apenas detalhes que ficam como questionamentos. Em geral, a fábula de del Toro funciona – e ainda é uma obra que merece ser vista e apreciada. Talvez apenas seu desejo de alteridade tenha ficado (um pouco demais) no campo romântico do conto de fadas.

https://youtu.be/bBIB-lhMNKQ

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