Vingadores: Guerra Infinita e a indústria de [spoiler]

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O texto abaixo foi publicado originalmente na Intervalo em 25 de abril de 2018:

Vingadores: Guerra Infinita e a indústria de [spoiler]

O dicionário Aurélio define spoiler como: “qualquer dado ou informação entregue por um amigo sacana, contando o final da trama de um filme ou série e potencialmente acabando com as surpresas que se teria ao assistir à obra por conta própria”.

Mentira, isso não está no Aurélio. Até porque o dicionário jamais chamaria de amigo o ‘serumaninho’ que viesse a contar – intencionalmente ou não! – os spoilers de alguma produção.

De qualquer forma, desde que [spoiler] morreu congelado em Titanic, ou que Bruce Willis descobriu que estava [spoiler] em O Sexto Sentido, o público tem se habituado a lidar com essa noção de spoiler.

Aliás, podemos ir além e dizer mais – mesmo sem entregar o final da trama. A própria indústria de entretenimento se apropriou da cultura do spoiler para fazer (ainda mais) dinheiro.

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Hollywood tem se especializado, ao longo dos anos, no cultivo e na gestão de uma imensa expectativa em torno de seus lançamentos, como forma de criar o interesse do público pelas recompensas emocionais, estéticas e [qualquer spoiler] que possa entregar.

A estreia de Vingadores: Guerra Infinita, da Marvel Studios, nesta semana levanta novamente essa aura de suspense, mistério e segredo, com a promessa de grandes surpresas para os fãs do MCU (o Universo Cinematográfico da Marvel).

O estúdio tem promovido o lançamento de seu novo filme pedindo aos espectadores que mantenham o bico fechado sobre os acontecimentos da trama – há até uma campanha brincando que “Thanos exige seu silêncio”:

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A estratégia é clara: quanto maior a expectativa, maior é o retorno... financeiro, é óbvio. Pode ter certeza, todo fã que se preze já garantiu seu ingresso para conferir o quanto antes o longa-metragem nos cinemas. Ninguém quer correr o risco de escutar – por um futuro ex-amigo – o que a Marvel reservou para essa obra.

E mesmo que a recompensa fílmica fique aquém do esperado (o que geralmente acontece), o valor do ingresso será justificado. Isso porque, em um mundo tão conectado como este em que vivemos (muitos de nós, pelo menos), é impressionante que um estúdio como a Marvel ainda seja capaz de manter os segredos de suas produções – e é por esse preço que você paga.

Para se ter uma ideia, em Vingadores: Guerra Infinita, a Marvel diz ter rodado cenas falsas e compartimentado o roteiro de tal forma que nenhum ator recebesse o script completo! O estúdio tem seus motivos para esse nível de segurança: o ator Tom Holland, por exemplo, levava muito a sério seu papel como “amigo da vizinhança” e saía contando detalhes dos filmes que estrelava. Já Mark Ruffalo, inadvertidamente (ou assim ele quer nos fazer acreditar), fez umalive da primeira exibição de Thor: Ragnarok ao esquecer de desligar o celular durante a sessão.

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Claro que essas historietas de bastidores servem para construir uma narrativa paralela: da própria estratégia de publicidade e marketing do Universo Marvel. Sejam esses casos espontâneos ou fabricados, eles ajudam a fomentar a cultura do spoiler e a vender a ideia de que é preciso ver esses filmes antes que algum espertinho (ou os próprios atores) estrague a experiência. Essa é a verdadeira “magia” de Hollywood!

Portanto, suas definições sobrespoiler acabam de ser atualizadas.Spoiler é: “uma estratégia da indústria de entretenimento e comunicação de massa para criar expectativa, ansiedade e um sentimento de urgência sobre seus produtos, visando a lucros mais gordos e imediatos e ameaçando amizades e relacionamentos para garantir seus objetivos”.

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