My Hero Academia é uma aula para as séries de super-heróis de Hollywood
Hollywood tem investido cada vez mais em produções baseadas em super-heróis, sejam elas da DC, da Marvel ou de outras editoras menos populares, como The Umbrella Academy, da Dark Horse Comics, que vai ser lançada em breve pela Netflix. Entretanto, a melhor série baseada em personagens heroicos da atualidade é o anime My Hero Academia, que adapta os mangás de Kohei Hirokoshi.
Mesmo que haja uma saturação crescente por causa do número de produções baseadas em personagens dos quadrinhos, My Hero Academia apresenta originalidade mesmo que tenha inspirações claras em obras orientais e ocidentais, como Naruto, Harry Potter, X-Men e Superman, conquistando o público ao redor do mundo e chamando atenção até daqueles que não estão acostumados com animes.
Coesão de universo
Algo que várias séries baseadas em super-heróis não conseguem manter é a coesão de seu universo por fatores externos, como questões contratuais ou predileções das empresas para o lugar onde suas marcas devem aparecer. Por exemplo, Gotham é produzida pela Fox, por isso não pode usar o Homem-Morcego, mesmo que ele seja o grande nome daquele universo; já Deathstroke foi permitido e proibido em Arrow conforme os responsáveis pelos filmes da DC mostravam interesse no mercenário.
Essa incongruência existe na Marvel por parte das séries incluídas no mesmo universo de Vingadores, já que são pequenos os pontos que realmente se refletem nas produções televisivas — parecendo que aquilo existe apenas pela metade ou de forma falsa. Por exemplo, Agents of S.H.I.E.L.D. tem dificuldade de se ajustar às mudanças causadas pelos longas, mesmo que esse seja o grande ponto alto dela na primeira temporada. Ainda quanto a isso, vale mencionar, principalmente, as produções da Netflix, que fingem muito mal fazer parte dos mesmos eventos surgidos da telona — transformando-se, assim, em recurso de diálogo referencial.
Em My Hero Academia, após o surgimento de uma criança que emite luz de seu corpo, várias outras começaram a demonstrar individualidades aos 4 anos de idade. Com muitas pessoas tendo poderes, a criminalidade aumenta, fazendo com que super-heróis surjam para tentar restabelecer a justiça no mundo. Você consegue perceber esse desenvolvimento em cada camada da sociedade, seja nos desajustados por causa de uma habilidade com característica que soa negativa, em como a visão do heroísmo pode mudar por causa da repercussão da imprensa e nos impactos que a cidade sente por causa de ataques dos criminosos.
All Might é o Superman do Oriente
No cinema, o herói kriptoniano aparece em Homem de Aço e muda aquele universo, confirmando a existência de vida extraterrestre ciente e criando a base para a história de Batman vs Superman; entretanto, há muito do conceito do herói que se perde na visão de Zack Snyder, principalmente o lado esperançoso que é tão icônico no personagem. Hirokoshi entende o quão simbólico é ter um símbolo de heroísmo para um universo repleto de heróis, portanto cria All Might como alicerce contemporâneo desse mundo.
O super-herói baseado no Superman aparece como o grande salvador de um ataque vilanesco, sendo reverenciado por todos os cidadãos como o maior símbolo de paz — o que lhe rende muito prestígio de seus fãs, inveja por parte de quem deseja tomar sua posição como principal herói e ódio daqueles que anseiam acabar com uma sociedade sustentada pela vigilância heroica.
O grande diferencial dele para sua base de inspiração é a mescla com as características vistas em alguns mestres de animes, como o Jiraya de Naruto; dessa forma, o torna mais divertido, traço que o personagem da DC Comics não possui e faz com que seja ainda mais difícil gerar empatia por ele nos dias atuais. All Might tem sua função na trama tanto como elemento-base daquele universo, com conselhos sábios ao jovem Izuku Midoriya, quanto como um alívio cômico eficiente.
A função do super-herói
Com um universo em que 80% da população tem habilidades especiais, o caminho para manter o mundo seguro é ensinar os jovens desde cedo a usá-las para o bem, principalmente no curso de super-heróis. Esse é o local principal da aventura do protagonista Midoriya e de outros alunos, o que se torna o grande diferencial do anime em relação a outras produções baseadas em heróis.
Em diversos momentos, há diálogos entre os professores e os próprios alunos para definir o que um herói deveria fazer em tal situação adversa, seja ela um desastre natural em que a população precisa ser conduzida para um local seguro, o combate a um vilão bastante perigoso ou até mesmo quando o correto é recuar e buscar ajuda para não colocar mais indivíduos em perigo.
Esses debates se tornam mais intensos quando eles discutem a linha tênue que existe em uma atitude impulsiva de um herói. Isso ganha mais intensidade na forma como os docentes tentam ajudar o jovem Katsuki Bakugo, já que ele tem um temperamento explosivo e demonstra potencial para condutas vilanescas. My Hero Academia amplia sua qualidade narrativa quando torna a moralidade das ações dos vigilantes o foco, mostrando assim quais são as consequências possíveis para um ato inconsequente ou egoísta.
Tais pontos acabam sendo pouco trabalhados por muitas séries de super-herói hollywoodianas, seja pelo fraco aprofundamento daquele universo ou até mesmo por tramas que dão enfoque às situações mais fantasiosas. A segunda temporada de Demolidor conseguiu isso ao introduzir o Justiceiro, criando um conflito de ideologias, algo que é bastante raro de se ver bem desenvolvido no gênero.
Kohei Hirokoshi criou um universo riquíssimo para o mangá de My Hero Academia, e o estúdio Bones tem conseguido entregar com ótima qualidade a animação, que ganha ainda mais detalhes quando a ação é o grande destaque. Mesmo que o Ocidente seja mais conhecido por produções de super-heróis, é o anime que realmente compreende o gênero, seja no respeito com que trata a sua versão do Superman — algo que nem mesmo a DC faz hoje em dia nas adaptações —, seja nos debates sobre o que molda um vigilante em prol da humanidade ou o que pode conduzir um jovem ao outro lado da moeda. Se os grandes estúdios americanos quiserem adaptar equipes juvenis baseadas em heroísmo, talvez essa seja a melhor fonte de inspiração.
My Hero Academia está em sua terceira temporada e já possui 52 capítulos lançados, com cerca de 20 minutos cada. É possível assistir aos episódios online pela plataforma de streaming Crunchyroll.
Este texto foi escrito por Gustavo Rodrigues via nexperts.
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