Intervalo: Era uma vez no Oscar [opinião]

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Era uma vez no Oscar

Com a vida, a gente aprende a não se expressar de cabeça quente e a pensar antes de falar qualquer coisa. Mas hoje vamos nos arriscar.

Na manhã desta fatídica quarta-feira, 8 de agosto de 2018, a Academia de Artes e Ciências Cinematográfica entrou em pânico e resolveu criar a absurda categoria de “Melhor Filme Popular” – na qual ela premiará a produção que mais agradou ao público ou fez mais dinheiro nas bilheterias, ou qualquer desculpa esfarrapada para levar os grandes blockbusters para a maior festa da indústria cinematográfica.

Historicamente, produções de gênero (como o terror, a ação, a comédia ou com heróis dos quadrinhos) não encontram muito espaço na premiação do cinema americano, especialmente pela concorrência com as chamadas obras “sérias”, de arte, os dramas independentes e afins – mas são os longas de gênero que efetivamente lotam os cinemas.

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Ao abrir uma categoria destinada aos “filmes populares”, a Academia tenta se aproximar do grande público, garantindo a presença dos títulos mais famosos exibidos no último ano. Sendo assim, não é totalmente injustificada a ideia de celebrar as superproduções que acabam dominando as salas de todo o mundo.

O problema disso começa pela preocupação com os números de audiência do Oscar, que vem caindo ano a ano. Com a premiação se distanciando dos maiores títulos e entregando estatuetas para obras mais “nichadas” (Moonlight, Spotlight, A Forma d’Água), a quantidade de espectadores sintonizando a cerimônia está diminuindo.

E de nada adiantou a manobra da Academia em expandir a categoria de “Melhor Filme” de 5 para até 10 indicados – decisão que foi tomada imediatamente após (veja bem!) Batman – O Cavaleiro das Trevas não ter conquistado uma vaga na disputa do Oscar 10 anos atrás. Mas, em vez de abrir espaço para nomeações mais comerciais, a mudança resultou apenas na inclusão de mais indicados “artísticos”.

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Sem solução em vista, a desacreditada Academia tomou o ato desesperado de inventar uma categoria especial para premiar os heróis da Marvel (porque sabemos que no fundo é isso, não é mesmo?!). Não há detalhes no momento sobre o que será avaliado como “Melhor Filme Popular”, nem como será esse processo (quais filmes podem se inscrever, quantos vão entrar na disputa, quem vota etc.).

Para piorar, a mesma Academia anunciou que o Oscar não irá mais transmitir a premiação das categorias “below the line” – em resumo, aquelas nas quais sobe um tiozão no palco e fica agradecendo milhares de pessoas que os espectadores não conhecem. A justificativa (bem elaborada) é tentar reduzir a cerimônia para 3 – ainda longas – horas. Na prática, é tudo para deixar o evento mais palatável ao telespectador.

A questão de tornar o Oscar menos técnico ou artístico e dar mais espaço ao cinemão e ao espetáculo não é totalmente ruim e pode gerar maior visibilidade aos filmes “sérios” de cada ano na competição. Porém, fica a sensação de que a Academia em si pode estar se distanciando da qualidade, da consagração por mérito e mesmo de um suposto selo “artístico” que lhe é particular.

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É preciso pensar, no entanto, que a própria seleção dos títulos para o “Melhor Filme Popular” deverá passar pelos critérios dos membros votantes, o que (benza Deus) garantirá alguma qualidade para as obras indicadas. Então, pode tirar seu cavalinho da chuva, Michael Bay. O espaço aqui é mesmo para Pantera Negra.

O filme da Marvel arrecadou nada menos do que US$ 700 milhões nas bilheterias norte-americanas – marca alcançada apenas por outros dois longas na história: Star Wars – O Despertar da Força e Avatar. A produção foi um verdadeiro fenômeno, e é devido a esse acontecimento cinematográfico que a Academia resolveu mudar as regras do jogo.

O grande problema de querer tanto os heróis da Casa das Ideias na premiação (ah, e podemos contar com Vingadores: Guerra Infinita nessa categoria, certo?) é que o recurso acaba minando as chances de Pantera Negra entrar na disputa principal – aquela que teve o número de indicados expandido para até 10 obras por conta de outra adaptação dos quadrinhos.

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Enquanto podemos esperar uma relação de “populares” com títulos da Marvel, talvez o novo Missão: Impossível (que é ótimo!), e quem sabe a sequência de Animais Fantásticos, mas certamente não o incompreendido Han Solo, essas produções podem se considerar, na prática, de fora da disputa do Oscar de “Melhor Filme” – exatamente como ocorreu com os longas de animação após a criação da categoria deles em 2002.

É uma pena. Parece que a Academia entendeu que não estava emplacando as superproduções em sua premiação – o que não aconteceu nem aumentando o número de indicados, nem ampliando a quantidade de membros votantes – e tomou uma medida extrema. Porém, esse recurso deixa a sensação de que obras de enorme excelência, como Dark Knight, Mulher-Maravilha, Deadpool, Efeito Fallout ou Guerra Infinita, nunca terão chance de alcançar uma nomeação ao grande prêmio de Hollywood.

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