Project Power, da Netflix, tenta inovar, mas não surpreende (CRÍTICA)
O cinema de ação sempre oferece pistas para compreendermos a visão do americano médio em relação ao estado geral das coisas em seu país. Pense, por exemplo, em como Capitão América – O Soltado Invernal (2014) reflete a ameaça de um governo de vigilância, que limita as liberdades individuais. Reflexo da pior face da Era Obama. Project Power, estreia deste final de semana da Netflix, nesse sentido, pode não ser o filme que merecemos, mas é o que temos para hoje.
Na trama temos uma nova droga que, ao ser consumida, concede cinco minutos de superpoderes para o usuário. Com a circulação do produto deixando um rastro de caos na cidade de Nova Orleans, um trio improvável, composto pelo policial Frank (Joseph Gordon-Levitt), o ex militar Art (Jamie Foxx) e a jovem traficante Robin (Dominique Fishback), precisará se unir para chegar até a origem da trama.
Já no primeiro momento, com o discurso ultra afetado do vilão interpretado pelo nosso Rodrigo Santoro, fica claro que há algo de sinistro por trás da nova droga. Ele literalmente distribui para a criminalidade local, sem pedir nada em troca. Logo fica evidente que suas intenções envolvem uma conspiração militarista, agências obscuras do governo e empresas de mercenários, que estariam desenvolvendo a droga para facilitar golpes de estado pelo mundo. Nada muito diferente do soro do supersoldado do já mencionado Capitão América.
Não é difícil ver aonde o filme está indo. O cenário de Nova Orleans, majoritariamente composta por cidadãos negros e que foi atingida por um furacão, recebeu apenas descaso da administração Trump. O que ajuda a reforçar a ideia de injustiça.
Aqui, a população mais vulnerável não serve para nada além de cobaia para ganhos dos mais ricos.
Este discurso, como logo fica evidente, está soterrado sob o que é objetivamente um filme de ação. E o que interessa aqui é explorar visualmente a lógica dos poderes. Estamos, porém, em 2020 e filmes de super-heróis não são mais a novidade que foram um dia, quando Bryan Singer lançou o primeiro X-Men: O Filme (2000).
Assim, Project Power apresenta pouco além dos poderes em “modo randômico”, já que só é possível saber qual habilidade cada pessoa manifesta depois dela tomar a droga.
Chega a ser curioso como os diretores, Henry Joost e Ariel Schulman – a dupla de Atividade Paranormal 3 e 4 (2011 e 2012) e Nerve: Um Jogo Sem Regras (2016) –, parece pouco interessada no artifício que está no centro do filme, ou seja, os poderes e as consequências cinéticas deles. Vemos banalidades como combustão espontânea, super-força, pele indestrutível e invisibilidade.
Não ajuda que, por algum motivo, eles não mostrem as sequências de ação de frente, quase sempre buscando um ponto de vista distanciado. Como uma câmera de vigilância ou, no momento mais interessante visualmente, de dentro de uma redoma de vidro, com a pancadaria acontecendo ao fundo.
É corajoso e faz sentido posto que é preciso apresentar alternativas à “escola John Wick”, mas a minha aposta é que ainda não é isso.
Texto escrito por Luiz Gustavo Vilela Teixeira via Nexperts.
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