Oscar de Melhor Filme em um ano imprevisível: Roma ou Green Book?

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Este é um dos Oscars mais imprevisíveis da história. A disputa pelo prêmio de Melhor Filme segue com a maioria dos indicados apresentando chances reais de vitória – e cada uma das produções tem um marco a deixar caso venha a vencer na noite deste domingo, 24 de fevereiro.

A imprevisibilidade do Oscar 2019, especialmente na categoria principal, é um sinal das mudanças na indústria de Hollywood, seguindo os movimentos de representatividade, diversidade e igualdade; e na própria Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, lidando com polêmicas como os #OscarsSoWhite (2015 e 2016).

Nos últimos anos, a Academia tomou uma série de medidas para atender a essas questões, incluindo o aumento de 20% no número de membros votantes de 2015 a 2018. Em junho de 2017, a Academia admitiu o maior grupo de integrantes e o mais diversificado de sua história, convidando 774 profissionais de 57 países (sendo 30% negros e 39% mulheres). A Academia informou ainda que, ao longo de 2017, houve um crescimento de 359% na quantidade de mulheres votantes (mas que ainda representam apenas 28% do total, hoje próximo de 8 mil membros).

Mudanças na Academia e o impacto no Oscar 2019

Mas como isso impacta o Oscar 2019? De imediato, podemos notar o maior reconhecimento de filmes estrangeiros na premiação, como Roma e Guerra Fria, que conquistaram múltiplas indicações (inclusive em categorias “de peso”, como direção e fotografia). Há também mais espaço para negros e latinos entre os indicados – mas o cenário ainda está longe do ideal.

Roma, produção mexicana da Netflix, é um dos favoritos ao Oscar 2019 de Melhor Filme.

Além de contar com um grupo maior e (levemente) mais diversificado, soma-se o fato de que, desde 2010, a Academia usa o sistema preferencial de votação para o Oscar de Melhor Filme (saiba aqui como ele funciona em detalhes) – uma opção que favorece a produção com maior aceitação entre o corpo votante.

Em uma análise, esse conjunto de mudanças pode ter beneficiado a consagração de títulos independentes ou de arte, como a sequência Birdman (2015), Spotlight (2016), Moonlight (2017) e A Forma d’Água (2018) parece sugerir. Considerando esse retrospecto, Roma seria o sucessor lógico, como uma obra mais intimista e artística (mesmo contando com os milhões da Netflix).

Sistema preferencial de votação

Por outro lado, o mecanismo do sistema preferencial de votação serve para eleger o filme mais popular ou querido pela maioria, o que pode prejudicar obras controversas e que dividem opiniões, mas aumenta as chances de concorrentes “menos visados” ao prêmio principal.

Seguindo esse pensamento, Green Book: O Guia surge como o mais provável candidato à estatueta, especialmente após vencer o Producers Guild Awards, a importantíssima premiação do sindicato de produtores que usa o mesmo sistema da Academia para escolher seu “Filme do Ano” – sem falar que os produtores também avaliam no Oscar e correspondem ao maior grupo votante de toda a comissão.

Green Book: O Guia pode se beneficiar do sistema de votação preferencial do Oscar de Melhor Filme.

Além disso, é preciso considerar os humores dos eleitores do Oscar e as estratégias que eles podem empregar ao classificar a ordem de favoritos ao grande prêmio. Para tentar prejudicar uma produção (mesmo que não a considere a pior entre as indicadas), um membro pode, por exemplo, colocá-la em última posição, seja por ser contra títulos de super-heróis ou não aceitar que um serviço de streaming leve o Oscar de Melhor Filme.

Campanhas dos concorrentes

Considere ainda os bastidores das campanhas, com narrativas muito bem construídas: como a interpretação de Rami Malek ofuscou o set problemático com Bryan Singer; como Glenn Close surgiu como favorita após um discurso belíssimo no Globo de Ouro (e que fez todo mundo se lembrar que a atriz veterana ainda não tem um Oscar); ou como Bradley Cooper foi “injustiçado” ao não ser indicado como diretor de Nasce Uma Estrela, o que pode reverter em votos “simpatizantes” ao realizador, seja na categoria de atuação ou prêmio de Melhor Filme (afinal, algo similar ocorreu com Argo, de Ben Affleck, no não tão distante Oscar de 2013).

Campanhas negativas também fazem parte da temporada de premiações, e neste ano acompanhamos polêmicas envolvendo alguns dos filmes indicados. Green Book: O Guia foi possivelmente o mais atacado entre eles, com questionamentos sobre a veracidade de sua história (baseada em fatos reais): no caso mais grave, a família do músico Don Shirley, retratado na produção, negou diversas passagens apresentadas no longa-metragem. Bohemian Rhapsody, vale dizer, sofreu ataques semelhantes por suas “liberdades artísticas” (ou distorção de fatos históricos) e seus atalhos e simplificações de roteiro.

Histórico da temporada de premiações

Com isso tudo, o Oscar de Melhor Filme parece suscetível a muitos humores, campanhas e estratégias divergentes – e nem mesmo os prêmios dos sindicatos e associações ajudam a dar alguma pista sobre o que vai acontecer no próximo domingo (24).

Em uma rápida recapitulação da temporada de premiações, temos:

Roma

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