Sonic derrapa no tom, mas acelera na diversão (CRÍTICA)
Em 2019, a internet ficou escandalizada com a divulgação de uma silhueta enigmática que prenunciava algo esquisito que logo chegaria a todos: um Sonic monstrão saindo da jaula.
Não demorou muito para o primeiro “miau?” ecoar pelas timelines e o mundo ser apresentado a um ouriço azul de aspecto intragável, ao som de Gangsta’s Paradise. Nexo?
Pois bem, a reação negativa foi tão estrondosa que forçou a Paramount a descartar, de forma bem sensata, o visual horrendo do mascote da Sega, dando vez a uma linda versão baseada em Sonic Adventure, do saudoso Dreamcast.
Restava agora saber se o filme realmente seria bom, entregando toda a adrenalina e nostalgia exigida pelo público.
Sonic vivia pacificamente em Green Hill Zone ostentando sua super velocidade. Esse mesmo dom atraiu cobiça de malfeitores e o forçou a se refugiar na Terra, onde faz amizades e soma forças para não ser capturado pelo excêntrico Dr. Robotnik.
A direção é do estreante no cargo Jeff Fowler, que disputou o Oscar de Melhor Curta Animado por Gopher Broke, lá em 2004. Fowler sabe que deve contemplar o fã de longa data e, também, apresentar o velocista a uma geração mais nova, utilizando o mote como norte para entregar o tom infantilizado e entusiástico do filme.
A estrutura da trama é imediatamente assentada em comédias tidas como “pastelonas” dos anos 90. É aquela mesma vertente que tomou conta de milhões de lares durante as lendárias transmissões da Sessão da Tarde. Há quem ame, e há quem despreze. Aqui, talvez funcione para parte do público.
Afinal, estamos falando sobre um personagem que veio daquela época, diretamente dos Mega Drives da vida. Olhando assim, existe uma matização. Todavia, espere por muita bobeirinha, pieguice e rumos narrativos bem inexplicáveis.
Sonic, dublado por Ben Schwartz, não denota o melhor CGI já produzido, mas ainda sim é crível e convence a base de ressalvas. Seus momentos de sair correndo freneticamente – aliados às armadilhas em slow motion ao melhor estilo Mercúrio em X-Men –, divertem até determinado ponto, quando tornam-se exaustivos.
Para todos os efeitos, o quesito que mais desacelera o ouriço certamente são seus diálogos permeados por falta de malícia e muita piada insossa, sem graça mesmo.
James Marsden é aquele amigo por acaso que contracena bem com o mascote, é autor de piadas legais, mas tem participação subaproveitada. Sua presença é uma engrenagem para alavancar os principais rostos da história.
Já Jim Carrey encena um Robotnik com todo o seu poderio no humor gesticular, que o consagrou no cinema. Expressões exageradas, poses cômicas, elevações no tom de voz, escatalogia… tudo dele está ali, irretocável, do jeitinho que os fãs adoram.
Personagens como os de Tika Sumpter e Neal McDonough, por fim, preenchem algumas pequenas lacunas sem muito destaque.
Pensado para agradar os fãs inveterados e apresentar a um público de primeira viagem – depois de muitas turbulências estéticas na pré-divulgação –, Sonic tem os trejeitos de comédias que assistíamos lá atrás e consegue entreter sob limitações etárias e criativas.
Mesmo com roupagem datada, ainda é possível se deleitar com a vastidão de fan services que Jeff Fowler embrulhou e deu com carinho para o espectador. Depois de a Nintendo ter acertado com Detetive Pikachu, foi a vez da Sega colocar seu mascote para percorrer um caminho promissor, mas que demanda evolução. O que importa é estar na direção certa.
Texto escrito por Fabrício Calixto de Oliveira via Nexperts.
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