Crítica: The Old Guard é um raro filme de ação com empatia
A beleza de um filme como De Volta ao Jogo, em que Keanu Reeves interpreta o implacável John Wick, não está apenas em suas cenas de ação bem coreografadas ou na construção de um universo interessante e coeso; a trama funciona pelo seu interesse genuíno e sincero nos personagens.
Basta lembrar dos bons 30 ou 40 minutos gastos para mostrar como o ex-assassino levou uma vida idílica até que a violência voltasse a bater à sua porta. É por sabermos quem ele é que nos importamos com ele, o que dá um senso de urgência muito maior para as cenas de ação.
The Old Guard, lançamento da Netflix baseado nos quadrinhos de mesmo nome de Greg Rucka, que também assina o roteiro, compreendeu bem essa lição. Mas impôs um desafio muito maior.
No mais recente filme de ação de 2020, acompanhamos um grupo de guerreiros imortais que passam os séculos participando de conflitos sangrentos, tentando ajudar da forma como podem. A líder deles, Andy (Charlize Theron), está em uma crise existencial, questionando a eficácia de seus atos. O mundo, afinal, parece estar cada vez pior.
É essa preocupação que guia suas ações e faz com que nos importemos com ela e com os demais personagens. Se eles são imortais, pouco deveria importar para o público se eles vivem ou morrem, mas a crise de consciência os torna mais humanos do que a média dos personagens de filmes baseados em quadrinhos. Faz toda a diferença.
É claro que a imortalidade não é absoluta — pense em como Superman precisa da kryptonita para que suas histórias tenham algum senso de urgência, de perigo — e os personagens podem morrer, mas o filme não foca demais esses detalhes até o terço final, quando precisa daquela dose extra de drama.
A preocupação com os personagens extrapola mesmo quando precisa abraçar clichês do cinema de ação. Em The Old Guard, como é típico, o grupo enfrenta uma ameaça existencial, uma empresa farmacêutica com um CEO que é uma caricatura do famigerado Martin Shkreli, o Pharma Bro, quer seus corpos para desenvolver pesquisas e lucrar com a comercialização de remédios e tratamentos — tudo isso enquanto precisa resgatar uma recém-descoberta imortal.
Nile (Kiki Layne) é a correspondente do público, para quem detalhes da trama são explicados, e é veículo de empatia. Os importais estão em perigo, mas não podem deixar que um novo companheiro sofra. Cuidar do próximo é cuidar de si mesmo.
Esses detalhes ganham força, por exemplo, na cena em que Joe e Nicky (Marwan Kenzari e Luca Marinelli), um casal de imortais, descrevem sua relação para soldados que tentam diminuí-los por serem gays. É um momento tão raro quanto brilhante, mérito da diretora Gina Prince-Bythewood, demonstrando saber dirigir sequências dramáticas de forma tão eficiente quanto nas belas cenas de ação que The Old Guard apresenta — e um funciona melhor quando tem o outro.
The Old Guard entendeu, afinal, a lição que Resgate, com Chris Hemsworth, também da Netflix, não conseguiu. E que venha a continuação já indicada pelo próprio filme.
Texto escrito por Luiz Gustavo Vilela Teixeira via Nexperts.
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