A 2ª temporada de O Mandaloriano terminou no final de 2020 e deixou os fãs de Star Wars muito empolgados com o resultado da série e o futuro da franquia no streaming. E olha que eu não estou falando só do Baby Yoda, a qualidade da produção criada por Jon Favreau para o Disney+ não é a única boa notícia disso tudo.
Tem uma tecnologia empregada nas filmagens que pode revolucionar o cinema e a televisão, devendo ser muito mais usada agora em 2021. Basicamente, essa tecnologia é um conjunto de telas com conteúdos pré-filmados e renderizados em tempo real que funcionam como um fundo e um cenário perfeitos para gravação.
Esse é o melhor substituto possível para as telas verdes ou azuis, já que garante mais realismo na atuação e faz tudo parecer um pouco menos artificial. O nome oficial de todo o conjunto usado em O Mandaloriano é Stagecraft, mas ela é também chamada de The Volume.
O Mandaloriano. (Fonte: François Duhamel/Lucasfilm)
Esse é um projeto criado pela Industrial Light&Magic, que é a empresa de efeitos especiais fundada por George Lucas, e a Epic Games, sim, a desenvolvedora de jogos como Fortnite, também criadora da Unreal Engine.
Ao todo, o componente principal desse cenário tem aproximadamente 6 metros de altura e é um paredão com curvatura de até 270 graus, feito com 1.326 pequenas telas em LED. O teto também é feito em LED, e o piso usado para movimentação tem diâmetro de quase 2 metros, formado por alguns objetos feitos pela equipe e construídos antes pelo time de produção, tipo mesas e decoração, dependendo da cena.
Mas o que é projetado nessa tela? Podem ser vídeos pré-gravados de locações, mas o maior trunfo dessa tecnologia é exibir cenários, objetos e outros elementos de computação gráfica pré-renderizados em tempo real, em uma tecnologia que não só parece, mas realmente é coisa de video game, só que em uma escala muito maior.
Placas de vídeo NVIDIA
Os ambientes 3D criados pela empresa de efeitos especiais são exibidos graças a um equipamento que usa placas de vídeo da NVIDIA para reproduzir imagens de altíssima resolução em tempo real.
Um equipamento de rastreamento ajuda no posicionamento das câmeras e na movimentação do cenário, para que tudo aconteça ao mesmo tempo e também espacialmente sincronizado. Em outras palavras, não é um vídeo exibido em uma tela, mas sim um ambiente gerado com objetos independentes, que podem se mexer de acordo com a ordem do diretor.
No fim das contas, é bem o que parece mesmo: a câmera filma tanto os atores e os objetos físicos quanto a tela atrás com a projeção, e o resultado faz parecer que esses elementos estavam todos juntos na hora da gravação.
A Stagecraft ainda permite movimentações de câmera mais complexas e ousadas, não apenas tomadas fixas. Mas é importante deixar algo bem explicado: as telas de fundo não são itens novos no cinema. É só pegar qualquer filme antigo com personagens andando de carro para ver como isso é um truque manjado, mas que, naquela época, ainda podia evoluir bastante.
Jon Favreau já queria utilizar renderizações feitas previamente em seus remakes live action de produções da Disney, como Mogli e O Rei Leão, mas essa tecnologia simplesmente ainda não estava pronta.
Telas de LED
Outro ponto positivo está na iluminação. As telas LED que fazem parte do Stagecraft tem uma resolução bastante alta e um brilho intenso, que reproduz muito bem a iluminação complexa de uma cena. Vários dos elementos que teriam que ser acertados na pós-produção já aparecem prontos, e isso em O Mandaloriano foi muito importante, por exemplo a armadura de beskar, o protagonista, é complexa em termos de reflexo e cada planeta tem cores próprias.
O uso das renderizações ajudou muito a não ter que mudar tanto as configurações do equipamento a cada nova cena ou ter que configurar tudo só depois de gravado.
Além disso, por causa da curvatura modular, o paredão de tela realmente "abraça" o ator, e a visão periférica é toda composta com o conteúdo, ajudando na imersão do elenco. Parece um ambiente 3D, quase uma experiência em realidade virtual. E Star Wars usou isso desde cenas mais simples, como uma sala de um vilão, até decks complexos usados para o reparo de naves.
Quanto custa?
Apesar de não termos ideia dos custos, algo é certo: essa não é uma tecnologia barata, mas é com certeza bem mais econômica do que preparar locações bem variadas de superproduções que exigem cenários bem diferentes, tipo um deserto, um local com neve, um planeta distante e por aí vai. Isso corta muito o valor de viagens, tempo e preparo de sets. E como a troca de ambientes também é mais rápida, dá até para acelerar filmagens e reduzir o tempo que atores e equipe passam no local, o que inclusive é bem recomendável em tempos de pandemia.
E olha como já deu resultados: cerca de metade da 1ª temporada de O Mandaloriano foi filmada usando essa tecnologia, que já gerou resultados excelentes logo na estreia.
E o chroma key?
Bom, as telas verdes ou azuis continuam sendo um recurso útil e principalmente barato. Só que a exigência do público é cada vez maior em relação a esse tipo de efeito e, mesmo em produções caras e modernas, dá para perceber quando os atores claramente não estão no mesmo cenário do fundo ou interagindo com alguns objetos de pura computação gráfica.
Até mesmo a atuação é prejudicada, já que muitas das reações e expressões partem de orientações do diretor e da capacidade de improviso do ator. Fora todo o trabalho enorme que deve ser feito na pós-produção, quando os fundos são substituídos e a equipe precisa fazer diversas correções de cor e nos reflexos.
A Unreal Engine pode fazer outras parcerias com mais estúdios, já que a tecnologia dela, chamada de Project Spotlight, pode ser aplicada nos mais diversos casos. E agora em janeiro de 2021, a Sony anunciou que vai comercializar painéis da linha Crystal LED que podem ser usados como cenários no mesmo estilo do que foi utilizado na série de Star Wars. Esse é o primeiro de muitos passos para que essa tecnologia seja popularizada e revolucione o jeito de trabalhar de muitos estúdios no cinema e na televisão.
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