O fotorrealismo inovador de O Rei Leão de Jon Favreau coloca a adaptação no limiar entre live-action e animação, por vezes, tocando o tão temido “vale da estranheza”. No instante em que os animais começam a falar e cantar, o feitiço da ação é momentaneamente quebrado até que o público faça um ajuste, recorrendo ao elemento nostalgia necessário para que a sequência narrativa funcione plenamente.
O resultado desse apelo ultra-realístico é visualmente impressionante, mas oco e não se sustenta por muito tempo. O filme depende de uma memória afetiva do público para completar as lacunas deixadas em uma história que sobrevive através da expressão das mais diversas sensações e não simplesmente de um ambiente verossímel. Claramente, o diretor tinha consciência dos perigos que poderia enfrentar e, por isso, investe em algumas primeiras cenas de deslumbre, destacando detalhes da natureza com uma riqueza de texturas e movimentos que não poderiam ser apresentados na animação de 1994.
Sobretudo, os travelings são realmente impressionante e ocorrem em um plano sequência que mostra desde os movimentos de um rato, o pelo do leão balançando com o vento, até mesmo um besouro que, ao encantar Simba com seus bater de asas, também hipnotiza o espectador com a riqueza do cenário.
No entanto, o mais desafiador para a transferência ao foto-realismo foi limitar as expressões faciais, o que significava que os animadores ficaram restritos quanto à forma como os animais poderiam se movimentar e mover suas bocas enquanto falavam ou cantavam. Os movimentos da mandíbula recebem mais destaque e os cantos das bocas algumas nuances de expressão, mas o todo das performances das personagens fica à cabo das interpretações dos dubladores.
Embora inicialmente os gestos de testa tenham sido marcados, Favreau julgou isso perturbador e eles acabaram desfeitos. A cena de Simba se divertindo enquanto filhote deu lugar a alguns sorrisos que tiveram a atenção desviada com uma ação coreografada para transmitir emoção.
"Quer dizer, o público iria se relacionar com este filme de uma maneira diferente", disse Adam Valdez, supervisor de efeitos visuais da MPC Film. "E você não teve todas as sacadas cômicas e ação exagerada e hiper-estilizada que na animação você tem mais liberdade. Você ganha um híbrido estranho se acessar as emoções onde não tem certeza se está assistindo animação ou live-action. E é um filme que tem que funcionar para um público mais amplo, então o desafio era: o que você colocaria no lugar dessas coisas em termos do impacto geral?”.
Diferente de quando dirigiu Mogli, que o diretor contava com uma personagem principal humana expressiva e algumas escolhas pontuais de caricatura nas fisionomias animais para conseguir sustentar a dramaturgia do enredo, em O Rei Leão essa sustentação dependeu quase que exclusivamente de elementos externos à tela de cinema.
Neste novo longa, essa transição é mais problemática e não acontece de forma tão suave quando em Mogli. Antes de mais nada, o filme exige que seus animais de CGI realizem uma construção shakespeariana convincente, o que obviamente não funciona.
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