É possível dizer que Dan Reed, o documentarista responsável por Leaving Neverland, nunca conseguiria estar preparado para o que ele encontraria ao pesquisar essa história. A obra aborda tudo o que aconteceu com os dois garotos que teriam sido abusados por Michael Jackson anos atrás, hoje adultos.
O documentário que chocou a plateia no festival de Sundance de 2019 tem um total de 4 horas de duração e é tão intenso que foi preciso preparar uma equipe de apoio para o público, fornecendo conselheiros de crise no local.
O documentário
Ao longo do documentário, acabamos vendo Michael Jackson de uma forma diferente daquela a que estamos acostumados. Passamos a vê-lo como uma estrela do pop que usou toda sua fama e dinheiro para manter os acusadores longe. MJ foi absolvido das acusações de ter molestado crianças antes da sua morte, em 2009, porém, nem mesmo após isso as histórias pararam e, agora, o documentário veio à tona.
O filme de Reed mostra os dois acusadores de Michael, que não conversavam ou mantinham qualquer tipo de contato, descrevendo comportamentos extremamente parecidos em relação ao que teria acontecido durante os abusos ainda na infância. A história foca estritamente nos dois homens, que hoje estão na casa dos 30 anos: o dançarino e coreógrafo Wade Robson e o californiano James Safechuck.
Reed confessou que inicialmente não estava muito interessado nessa história, mas aceitou algum dinheiro para tentar desenvolver algo para o documentário. Entretanto, ao iniciar as pesquisas, descobriu que Wade havia processado Michael Jackson e, por isso, provavelmente aceitaria contar tudo para a câmera.
“Quanto mais eu descobria, mais me interessava”, explicou Reed. “Eu não me importava em expor o Michael Jackson. Queria que pessoas reais compartilhassem detalhes. Isso se tornou uma história sobre dois meninos e suas famílias encontrando um homem famoso e caindo no seu feitiço. Abuso sexual de crianças é um fenômeno que ninguém entende ou gosta de discutir.”
Reed decidiu focar mais na história das famílias, mostrando como MJ ajudou o casamento dos pais dos dois meninos a se dissolver. De acordo com o documentário, Michael promovia suas carreiras, cortejando as mães e afastando os pais, para ter mais “poder” sobre as crianças.
Reed conta que não queria entrevistar outras testemunhas, pessoas que trabalhavam para Michael ou qualquer outra coisa. “Nós decidimos que o material tinha poder por conta própria. Temos um menino na cama com Jackson. Não precisamos de uma camareira que entrou no quarto e viu Wade com Michael nu”, explicou Dan Reed.
Os dois confiavam muito em Reed, e isso era recíproco. Reed conta que sentou com eles para entrevistas e tentou encontrar furos, mas tudo era muito consistente, verdadeiro. “Se você acha que alguém está tentando inventar uma história para aumentar sua chance em um caso judicial, ele não teria que arrastar a mãe”, revelou Reed sobre a fragilidade.
Em relação às mães, Dan diz que lamenta que elas tenham sido tão julgadas. “Eu não acho que as mães pensaram que algo sexual aconteceu. Wade e James criaram um apego em relação ao seu agressor, queriam que Michael Jackson fosse buscá-los, o que é mais horrível para os pais ouvirem”, contou.
A magia de Neverland
Durante o documentário, Reed mostra em primeira mão toda a visão de Neverland, com elefantes, tigres, chimpanzés, galerias e um parque de diversões, ao mesmo tempo que acompanhamos a descrição assustadora de James sobre todos os lugares onde sofreu abuso.
Reed cria toda uma ambientação de magia, fazendo você sentir o encanto que era Neverland, mas aos poucos podemos perceber toda a magia indo embora daquela “floresta encantada”, sendo sugada por algo mais sombrio e sinistro.
Reed fez questão de manter os dois separados durante as gravações, para que não houvesse qualquer “contaminação de informação”. James e Wade acabaram se conhecendo apenas durante o Festival de Sundance, quando o filme foi exibido.
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