Até 2004, os fãs de histórias sobre seres humanos lidando com seus piores pensamentos enquanto fogem de desmortos tinham que se contentar com as obras de George Romero, o avô dos zumbis. Veja bem, produções não faltavam, mas nem todo mundo sabia como dosar drama e terror em uma trama cheia de questionamentos éticos e filosóficos.
Eis que um rapaz chamado Robert Kirkman, que já vinha chamando a atenção por sua facilidade em lidar com bons e ágeis diálogos em pequenos universos ficcionais calcados na realidade, realizou um marco nesse mesmo ano ao lançar The Walking Dead. A revista em quadrinhos tinha toda aquela ambientação claustrofóbica e esquisita dos filmes de Romero, mas com uma premissa capaz de explorar melhor a complexidade dos personagens.
Fonte: Image Comics/Reprodução
Afinal, uma das maiores perguntas em A Noite dos Mortos-Vivos era: se os zumbis matam por instinto e os homens fazem isso por sobrevivência e diversão, quem, no final das contas, morreu e continua andando?
Despedida emocionante
E aqui estamos 15 anos depois, em uma jornada raramente vista no setor de entretenimento. Mesmo com algumas mudanças e interferências com a popularidade da série na TV, The Walking Dead continuou fiel ao seu próprio caminho. E quem diz isso, em tom emocionado, é o próprio criador, Robert Kirman.
"Estou chateado também e vou sentir tanta falta quanto você — se não mais. Meu coração está partido por ter que acabar com isso. Nós temos que seguir em frente e amo esse mundo e não quero prolongar muito as coisas até que ninguém mais corresponda ao que eu quero que seja", diz o autor.
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"Espero que você entenda e espero que você, querido leitor, saiba o quanto aprecio o presente que você me deu. Consegui contar a minha história exatamente como queria, em 193 edições, e terminá-la nos meus próprios termos, sem interferência em todo o caminho... em qualquer momento. Isso é uma coisa tão rara, e não existe sem o apoio inflexível que esta série recebeu de leitores como você. Muito obrigado."
E como fica a série de TV?
Bem, ainda não dá para saber exatamente se alguma coisa que já foi definida para a série de TV vai mudar em relação ao que acontece nesta semana nos quadrinhos — até porque elas deixaram de ter alguma cronologia semelhante faz alguns anos. Contudo, podem apostar que algumas coisas que deram certo no papel podem pular para a atração da Fox a partir do 10º ano, que estreia em breve.
Fonte: Fox: Reprodução
Enquanto isso, é hora de dizer adeus. The Walking Dead #193 terá 71 páginas, com roteiro de Kirkman e desenhos de Charlie Adlard, será lançada nesta quarta-feira (3) e marca o fim de uma era de uma forma interessante. A revista atravessou períodos disruptivos em 4 mídias (quadrinhos impressos e digitais, TV e games) com igual sucesso e liberdade criativa. Goste ou não, isso é algo muito louvável no setor de entretenimento e, só por isso, já vale nosso respeito.
"Robert Kirkman contou uma história e contou muito bem por mais de 15 anos, e enquanto a maioria dos quadrinhos é baseada na ilusão de mudança, The Walking Dead aconteceu em tempo real — personagens têm idades de crianças a adultos, perderam membros do corpo; da família, de amigo; e morreram", comenta o editor da Image Comics, Eric Stephenson, ao Bleeding Cool.
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"Não morreram do jeito do Superman, Capitão América e Wolverine, mas da maneira mais real que possa acontecer em uma história fictícia. A série está terminando com a mesma finalidade que começou e por mais que isso seja decepcionante para alguns, no grande esquema das coisas, é uma conquista notável para Robert e seus colaboradores."
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