Para uma desenvolvedora, dar sequência a um game tão bem-sucedido quanto Pokémon GO não é uma tarefa fácil. Lançado há pouco mais de 2 anos, ele continua sendo um sucesso mobile que inspirou muitos jogadores a retomarem seu amor pela série e a adotar um estilo de vida mais ativo como consequência de suas mecânicas.
No caso da Niantic, essa tarefa se torna um pouco mais fácil quando se pode contar com uma licença tão forte quanto a de Harry Potter e com várias lições que um grande sucesso traz. A convite da desenvolvedora, viajamos a São Francisco para conferir a primeira demonstração de Harry Potter: Wizards Unite, título que deve chegar ao Android e ao iOS até o final de 2019.
Conforme a empresa nos alertou, o que estava disponível era somente uma build em estado bom o suficiente para funcionar. Felizmente, isso foi o bastante para perceber que o jogo não somente reaproveita boas ideias do passado, como também traz logo de cara elementos que enriquecem seu gameplay e usam bem os componentes da obra de J. K. Rowling.
Exploração, exercício e social
Não é somente a Niantic que está trabalhando em Harry Potter: Wizards Unite; o jogo também conta com a colaboração da WB Games San Francisco e da Portkey Games, selo criado para lidar com tudo o que envolve o Wizarding World no universo mobile. No entanto, são as três principais centrais da desenvolvedora que comandam a produção: exploração, exercício e interações sociais no mundo real.
A intenção é que os jogadores não se preocupem somente em interagir com os elementos que surgem na tela de seus smartphones, mas também em andar para alcançá-los. Para isso, foi usada uma interface que lembra bastante a de Pokémon GO (com direito à visão aérea e aos pontos de interesse que surgem no horizonte), mas revela uma quantidade maior de detalhes.
O game usa a versão mais recente da Real World Plataform, infraestrutura que dá vida aos projetos da Niantic
Conforme a desenvolvedora nos explicou, o game usa a versão mais recente de sua Real World Plataform, infraestrutura que dá vida a seus projetos — e à qual ela dedica mais funcionários do que a cada um de seus games. Isso não somente permite que o game tenha mais detalhes em seus cenários (como corujas voando ao fundo), como também possibilita o uso de técnicas de Realidade Aumentada mais sofisticadas.
A prova disso eu pude sentir durante os testes, que ocorreram no quarteirão ao redor da sede da empresa, localizado no píer de São Francisco. Os pequenos eventos — que incluem batalhas contra comensais da morte, confrontos com dementadores e tentativas de libertar criaturas fantásticas — se encaixam melhor no mundo real, que é “congelado” durante alguns instantes enquanto você realiza as ações necessárias.
O efeito em geral é interessante, mas impressionou mesmo somente no momento em que pude usar uma das chaves de portais oferecida pela Niantic (que, no caso, tinha o formato de uma bota). Ao acioná-la, surgiu um portal em que tive que entrar andando, ato que me transportou para uma sala secreta que oferecia um pequeno mini game de coleta de itens brilhantes — tarefa que exigiu a movimentação do celular para examinar cada um de seus cantos.
Crise existencial do mundo da magia
Harry Potter: Wizards Unite acontece no tempo atual, quando os acontecimentos da série já ficaram para trás há certo tempo. No entanto, a derrota de Voldemort não significa que o mundo da magia está em paz: um grupo misterioso desencadeou um evento conhecido como “A Calamidade”, que mexeu com o tempo e o espaço, ameaçando revelar o universo escondido pelos bruxos para o mundo dos trouxas.
Você assume o papel de um bruxo responsável por ajudar a colocar as coisas no lugar, encontrando anomalias e as eliminando. Essa premissa permite que você encontre Hagrid preso por teias de aranha ou ajude Harry Potter a escapar do ataque de um dementador durante uma partida de quadribol sem que isso implique em mudar a história canônica da série.
A promessa da Niantic é de que, logo de cara, o jogo vai ter algumas centenas de encontros disponíveis, sendo que alguns deles devem ficar restritos a certas regiões do planeta. A variedade vai ser garantida pelo fato de que, além da série original, o game aproveitará elementos e situações vistos diretamente nos filmes “Animais Fantásticos”.
Um sistema conhecido como “Mistérios da Calamidade” promete trazer atualizações constantes para o jogo, cuja história foi programada para durar um longo tempo. Reunindo personagens novos e antigos, a trama promete seguir cuidadosamente as regras da série, mesmo que J. K. Rowling não esteja supervisionando de forma direta sua produção.
Gameplay mais aprofundado
Ao falar do gameplay de Harry Potter: Wizards Unite sem ter como mostrar o game, o jeito mais fácil é recorrer a uma comparação com Pokémon GO. Nele, o que seriam as pokéstops se transformam em tavernas, nas quais você coleta alimentos (alguns melhores do que outros) e preenche seu medidor de magia.
Já os ginásios se transformam em fortalezas, que reservam os itens mais valiosos, liberados quando você vence alguns desafios que podem ser encarados em grupos de até cinco pessoas. Lá você vai ter que encarar não somente versões mais poderosas dos comensais da morte, mas também outros bruxos, vampiros, lobisomens e uma grande variedade de monstros.
O combate é uma versão simples de um RPG por turnos, no qual a realização de gestos na tela determina o poder da magia usada no momento do ataque. Quando o inimigo toma a iniciativa, você pode usar um gesto para ativar a magia “Protego” e receber menos dano — e, se as coisas ficarem muito difíceis, é possível recorrer a poções, que você cria usando itens encontrados pelo mapa do game ou como recompensa para missões bem-sucedidas.
Outro aspecto que ajuda Harry Potter: Wizards Unite a ser uma experiência mais profunda para quem busca isso é o sistema de profissões. Através delas, você pode se especializar no combate contra as artes sombrias, ganhar vantagens no trato com animais, ou, se preferir, melhorar sua capacidade de preparar poções.
A Niantic garante que a seleção disponível na demonstração é somente o começo do que ela preparou nesse sentido e será possível trocar livremente de profissão, dando aos jogadores bastante liberdade para experimentar com aquela que lhe parecer mais convidativa. Também haverá a opção de simplesmente ignorar esse aspecto, caso você não se ligue muito em questões como estatísticas, evoluções e especializações.
Para os colecionadores, Harry Potter: Wizards Unite tem uma área reservada a registrar todos os feitos que você realizou enquanto joga. A cada determinado número de repetições de um evento, um selo relacionado a ele é registrado em seu álbum pessoal, através do qual você pode ver mais detalhes, inclusive o contexto por trás de sua aparição original nos livros e nos filmes.
Escolha sua casa
Harry Potter: Wizards Unite vai trazer um sistema de perfis um pouco mais aprofundado que o visto em Pokémon GO. Usando a tecnologia de realidade aumentada combinada à câmera frontal de seu dispositivo, você poderá registrar uma fotografia e enfeitá-la com itens como chapéus de bruxo, cachecóis, óculos e vários acessórios, criando uma versão diferente de você mais compatível com o mundo da magia.
A Niantic garante que o sistema foi criado para ser o mais seguro possível
Obviamente, também será possível escolher a casa de Hogwarts à qual você pertence, mas não haverá nada como o teste do chapéu. A Niantic garante que o sistema foi criado para ser o mais seguro possível, o que significa que somente você vai poder ver a fotografia que registrou — algo que deve ajudar a proteger as crianças que, inevitavelmente, vão se sentir atraídas pelo game.
A promessa é de que todas as etapas de segurança necessárias foram tomadas e que nenhum dado pessoal vai ser compartilhado com outros jogadores. Você pode até divulgar certa quantidade de dados para pessoas mais próximas e grupos de amigos, mas a desenvolvedora garante que nada do que o game registrar será capaz de revelar sua identidade real a outros jogadores.
Altos valores de produção (e totalmente em português)
Ao trabalhar diretamente com a Warner Bros., a Niantic tem a vantagem de conseguir levar a Wizards Unite muitos elementos familiares aos fãs de Harry Potter. Embora o jogo tenha personagens criados especialmente para ele, você também vai poder interagir com Harry, Ron, Hermione e outros nomes queridos, que reproduzem no game as feições que vimos nos filmes.
O valor de produção é alto para um jogo mobile, com direito a dublagens para todos os textos que surgem na tela. No entanto, não há as vozes originais de nomes como Emma Watson e Daniel Radcliffe, mas sim de atores que emulam a maneira como eles falam, mesmo que nem sempre de forma perfeita.
A build disponível estava em inglês, porém a Niantic garantiu que teremos o jogo completamente adaptado ao português já em sua data de lançamento. Quanto a quando isso deve acontecer, o mistério permanece: a produtora garante que o ano de chegada é 2019, mas preferiu deixar em aberto a data exata.
A desenvolvedora pretende que o game seja capaz de rodar em uma grande variedade de dispositivos (não somente nos de alto desempenho) e que, através de atualizações, ele se torne a experiência “eterna” de Harry Potter que vamos jogar durante muitos anos. A promessa é de que o que vimos na prévia e o que estará disponível no lançamento será “somente o começo” de uma aventura que deve se prolongar por diversos anos.
O TecMundo viajou a São Francisco a convite da Warner Bros.
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