Fãs da zueira e das piadinhas infames politicamente incorretas, regozijai-vos: o mais falastrão mercenário dos quadrinhos está de volta, em Deadpool 2 (leia aqui a nossa crítica), que estreia esta semana no circuito nacional. Como já deu para notar nas várias prévias, o grande antagonista da vez é o mutante Cable, um importante personagem da Marvel Comics que lidera a X-Force, também citada nos trailers. Mas quem é esse soldado e o que essa equipe tem a ver com os X-Men e com o resto do universo Marvel? Contamos logo abaixo.
Bem, antes de mais nada, é preciso destacar o contexto do que era o mercado de quadrinhos nos anos 90, uma década em que os filmes de seres com colantes coloridos não eram assim tão populares. Foi o período de decadência dos super-heróis, que já haviam passado por tempos mais sombrios nos anos 80 e pouco depois esgotaram suas fórmulas — vale lembrar que foi nessa época que o Batman teve a espinha quebrada, o Superman, o Lanterna Verde Hal Jordan e o Arqueiro Verde morreram; o Wolverine perdeu o adamantium (e o nariz…) e o Homem-Aranha ganhou dezenas de clones, entre outras bestialidades.
O cantinho dos X-Men era o único que ainda rendia alguma coisa. Catapultados pela série animada de sucesso e pela ótima fase da dupla Chris Claremont e Jim Lee, os pupilos de Charles Xavier mantiveram a Marvel Comics em pé. Por isso mesmo, a Casa das Ideias multiplicou os Filhos do Átomo em várias outras publicações. Em muitas delas, a proposta de trazer ação extrema e quase nada de roteiro funcionou. Nascia assim Cable, Deadpool e a X-Force.
Cable, o exterminador do futuro
Quando Cable nasceu, o título dos Novos Mutantes estava precisando de uma guinada e havia toda uma leva de personagens misteriosos surgindo das mentes de Jim Lee, Rob Liefield e Marc Silvestri — que posteriormente se juntaram a Whilce Portacio, Jim Valentino e Todd McFarlane para montar a Image Comics, editora de The Walking Dead.
Dois deles chamavam bastante a atenção, tanto pelos uniformes impraticáveis e cheios de cacarecos, quanto pelo passado nebuloso: o viajante do tempo Cable e seu rival Deadpool. Como o segundo já tem muito de sua história sendo contada por aí, vamos nos dedicar mais ao primeiro.
Ele estreou em sua versão adulta para liderar os Novos Mutantes em uma equipe proativa, mais agressiva e no estilo “atire primeiro e pergunte depois” — algo diferente das linhas do Professor Xavier e do Magneto. A razão para isso seria evitar um futuro sombrio, de onde o próprio Cable tinha vindo. Algo bem estilo Sarah Connor versus Skynet mesmo. Mais tarde, os Novos Mutantes viriam a se tornar a primeira formação da X-Force.
Cable, o filho de Ciclope
Ainda que Rob Liefield fizesse sucesso com seus desenhos sem a mínima noção de anatomia, os plágios na criação dos personagens deixaram buracos que tiveram de ser preenchidos ao longo do tempo por outros criadores. E com o Cable foi a mesma coisa: ele apareceu no universo mutante SEM poderes mutantes.
Foi aí que o editor Bob Harras chamou outros autores e definiram que as habilidades telecinéticas de Cable e seu único olho eram heranças de seus pais e da perda da metade de seu corpo, que se tornou cibernético por conta de um vírus tecnorgânico. Dessa forma, Nathan Summers se tornou filho de Scott Summers, o Ciclope, com Madelyne Pryor, um clone de Jean Grey (eu disse que os anos 90 foram decadentes para os super-heróis...).
Para evitar que o bebê morresse no presente, Scott e Madelyne precisaram enviar Nathan para o futuro, onde ele poderia ser tratado e se tornar o importante líder de uma rebelião que salvaria a vida dos mutantes. Depois, disso, o personagem cresceu e passou a ter uma posição importante no cantinho dos X-Men, sempre com aparições significativas nas sagas anuais dos Filhos do Átomo.
Cable, o irmão de bastardos
Cable teve três irmãos que ficaram órfãos ou foram separados dos pais. O primeiro a ter sido revelado foi o vilão Conflyto, que nada mais era que um clone seu, mas melhorado — ao melhor estilo gêmeo malvado de novela mexicana (lembrem-se que nos anos 90 a questão genética estava em alta com a ovelha Dolly e a possibilidade de criar réplicas de seres vivos).
Ele tem também uma versão alternativa da saga A Era de Apocalipse. Nate Grey é bem mais poderoso que Nathan, por não ter que conter sua doença com a telecinese herdada da mãe. Conhecido como X-Man, ele costuma aparecer por aí de vez em quando.
E não podemos nos esquecer de sua “meio-irmã” Rachel Summers (ou Rachel Grey), a Fênix de um futuro alternativo que é filha de Scott Summers com Jean Grey-Summers.
Cable, “o Capitão América dos X-Men”
Bem, terminado os anos 90, o reinado dos títulos “X” acabou e a Marvel Comics atingiu o fundo do poço, chegando a pedir concordata — e foi aí que a companhia vendeu os direitos de personagens em contratos absurdos para a Fox, a Universal e a Sony. Começava, então, a reconstrução dos Vingadores como franquia número um da editora e a integração com outras mídias.
Esse processo foi doloroso para a família X, que viu muitas de suas revistas serem canceladas e personagens de primeira linha, como Cable, tendo momentos muito irregulares. Sua própria publicação mensal foi suspensa várias vezes e somente nos últimos três anos é que ela vem tendo mais consistência, devido ao revival anos 90 que os Filhos do Átomo vêm passando na editora. Assim como o soldado mutante, a X-Force teve um histórico semelhante de altos e baixos.
Agora, com os Vingadores na linha de frente, Cable foi reposicionado na editora como “o Capitão América dos X-Men" ou algo assim, o que determina novamente sua liderança no cantinho X. Com o possível sucesso deDeadpool 2 e o desenvolvimento de uma adaptação da X-Force, pode ser que esses heróis, que tanto apanharam nas duas últimas décadas, voltem a figurar com mais relevância em todas as mídias.
Veja também: Deadpool 2: o que achamos da sequência com o mercenário tagarela (crítica)
Este texto foi escrito por Claudio Yuge via Tecmundo (um site da empresa NZN junto com o Minha Série).
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