Em alta no mercado, a discussão sobre um sistema de conquistas, recurso cada vez mais abraçado pelas plataformas – só falta o Switch se juntar à causa –, é mais legal do que você imaginava. De um lado, temos as conquistas, tradução oriunda do termo “achievements”, o método que o Xbox utiliza para somar pontos ao perfil do jogador; de outro, há os troféus, que é a maneira pela qual o PlayStation premia os usuários por ações específicas.
Em ambos os casos, um vício: subir. Crescer. Disputar um status virtual com seus amigos, do jeito gostoso e saudável, como deve ser. Estar num ambiente online compartilhado, dividir experiências, ostentar aquela conquista difícil e postar nas redes sociais. Há quem não ligue a mínima e não há problema algum nisso. Mas é fato: talvez todos, em alguma escala, sentem prazer ao ver o negócio pipocando na tela. É uma filosofia em que ninguém sai perdendo; o casual e o hardcore ganham.
A um certo grau de vício, alguns se encaixam naquilo que é classificado como “cracolândia do gamerscore” (estou buscando tratamento para isso, aliás, com o perdão da metáfora), enquanto outros buscam focar seu tempo nos jogos que realmente curtem. Dito isso, a pergunta que se faz é: até onde vai o seu limite por gamerscore? O Voxel conversou com algumas pessoas-chave da comunidade Xbox, plataforma pioneira na implementação do recurso (que pode ter um sistema de carreira em breve), para buscar respostas. Este é um especial que se enquadra numa série de reportagens a respeito do assunto por aqui.
Visões diferentes e uma mesma premissa: diversão
Na opinião de Nelson Alves Jr., um dos apresentadores do Inside Xbox Brasil (ao lado das divas Mari Ayres e Thais Matsufugi) e curador de conteúdo do programa, além de jornalista de longa data com vasta experiência na editoria de games, a ideia das conquistas sempre funcionou para descobrir coisas que, de outra forma, não seriam descobertas, sendo, para ele, um recurso “divisor de águas na decisão dos jogos multiplataforma”.
“Sempre curti a ideia das conquistas. Lembro que na redação ninguém dava a mínima, mas eu já gostei da ideia desde o princípio. Nunca fui (e continuo não sendo) um caçador de conquistas, mas a proposta de fazer algo no jogo que normalmente eu nem prestaria atenção sempre me agradou. Sempre tive todos os consoles, mas a maioria esmagadora dos meus títulos é de Xbox desde o 360. O curioso disso é que, embora o pessoal do início criticasse a ideia das conquistas, esse mesmo pessoal passou a gostar quando surgiram os troféus, que é essencialmente a mesma ideia de recompensa”, contou Nelson (identificado como DarthMaulBR na Live), detentor de mais de 200 mil pontos de gamerscore, ao Voxel.
Ele se encontra naquele ponto de equilíbrio em que não é preciso se “obrigar” a caçar conquistas, mas reconhece o valor delas. “Não me prendo a um título por causa de conquista. Detesto colecionáveis, não interessa quanto de GS eles me darão. Foram raros os jogos que me prenderam por isso (cito o AC Origins, que amei fazer tudo porque o jogo é phodi*o). (...) Não enxergo um jeito 'certo' ou 'errado' de jogar. Se a pessoa se diverte suando pra fazer os 1000g, ótimo, ela encontrou um jeito de curtir o jogo. Pra mim é isso que vale”, pontuou.
Assassin's Creed Origins: redenção da franquia e sedutor às conquistas
A pontuação rápida: jogos bons e lentos de pontuar vs. jogos ruins e rapidamente miletáveis
Em contraste com a visão de Nelson, ArnaldoDK, primeiro brasileiro a atingir 1 milhão de pontos de gamerscore, não sabia o que isso representava para ele lá atrás, há 11 anos.
“Quando desbloqueei a primeira conquista eu não tinha ideia do que representava aquilo, um troféu girando na tela com uma pontuação...o quê era aquilo? Hoje, 11 anos depois, eu já não sei mais como é jogar sem fazer umas conquistinhas. Jogos sem troféus ou conquistas parecem sem propósito para mim”, opinou o jogador, que ostenta quase 1 milhão e 200 mil pontos de gamerscore no momento em que esta reportagem é publicada. Conheça o canal de ArnaldoDK no YouTube clicando aqui.
Há vídeos em que o próprio DK se questiona sobre esses limites – caso do material adiante, que ilustra o jogo Spiral Splatter:
Já na perspectiva de Max Clayton, forte nome na comunidade Xbox – representado como M4XMOTORMOUTH –, as conquistas tiveram seu lampejo durante três anos para ele, só que, depois, o jogador passou a ter uma percepção mais aguçada sobre a essência original dos games e passou a se questionar se valia a pena continuar pontuando incessantemente ou se o tempo livre poderia ser mais aproveitado do “jeito original” – isto é, jogando despreocupadamente sob a ótica da diversão.
“Eu já fui um perseguidor de conquistas bem mais aficionado, mas sempre mantendo a minha meta de completar tudo o que é possível pelo meu próprio esforço, entenda-se, nada que precise de ‘boosting’ online ou conquistas multiplayer. (...) Mas depois de um tempo eu percebi que a intenção inicial que eu compreendia ser o motivo da idealização dos achievements havia se perdido e eu, como gamer, havia perdido a essência também”, relatou Max em resposta ao contato do Voxel.
Hoje, praticamente muitas developers vendem o gamerscore com jogos realmente muito ruins
“Hoje, praticamente muitas developers vendem o gamerscore com jogos realmente muito ruins. Hoje funciona assim, se você tem $$$$ e tempo, terá uma gamertag robusta, com 1 zilhão de pontos. Mas além desse fator que destaquei, a que ponto isso vale a pena? Eu comecei a olhar pra minha gamertag uns 3 anos atrás e me perguntar, que mer*a estou fazendo? Jogando 10 mil joguinhos de bichinhos coloridos, Barbie, Hanna Montana...Caí na real. (...) Eu amo os achievements, foi uma das coisas mais bacanas criadas nas últimas décadas, mas sofre um desvirtuamento brutal de uso, por parte de muitos gamers e muita developer ou publisher”, desabafou o jogador, que soma mais de 400 mil pontos de gamerscore no momento em que esta matéria é escrita. Max também tem um canal no YouTube, o MAX 1 DE LIFE, que pode ser acessado clicando aqui.
Uma das magias: experimentar o máximo de jogos possíveis
O Voxel também conversou com Rafael Gerardo, o rafaelgrn da Xbox Live, jogador e fã de longa data da marca. Hoje, Rafael ostenta o status de maior gamerscore do Brasil, com mais de 1 milhão e 240 mil pontos no instante em que este especial é confeccionado. Na visão do jogador, experimentar o máximo de jogos possíveis é o principal combustível para continuar pontuando.
“Minha paixão pelo gamerscore acabou vindo do grande prazer que sempre tive em experimentar o máximo de jogos possíveis. Não sou um cara que costuma ficar sofrendo muito nas conquistas, então meu limite pelo Gamerscore é determinado por quantos pontos eu consigo tirar do jogo sem me estressar ou estragar a diversão. Um fator que ajuda é tentar encarar cada jogo como um desafio a ser superado, seja completando todas as conquistas, seja fazendo o máximo possível dentro dos meus limites. Sempre tento tirar a melhor experiência do game na busca pelo gamerscore”, destacou.
“Claro que há casos em que a experiência não é a mais prazerosa e acabo encarando um jogo muito ruim, mas é aquilo: o jogo já estava aberto, vi que dava para tirar uns pontinhos, então fui até onde deu, fechei e nunca mais abri. Assim como existiram casos em que não me dei bem com o jogo, vi que não ia render muito e larguei do jeito que estava. (...) Graças a esse objetivo de acumular pontos fiz grandes amizades, conheci milhares de jogos diferentes, sendo alguns deles extremamente marcantes, e inclusive já cheguei a criar a lista de conquistas de dois jogos, que espero que não demorem muito para chegar ao Xbox One”, contou Rafael, que é dono do site Conquistaria.com.br e também de um canal de mesmo nome no YouTube. Há jogos que podem ser “miletados” em 20 minutos ou menos – caso do recém-lançado North, discorrido no vídeo adiante.
Uma nova camada à experiência de jogo?
A opinião da jogadora Katharina Away, criadora de conteúdo da marca em seu canal XPGG e identificada na Xbox Live como KathFallAway, é enfática: “Conquista para mim é quase que obrigatório”. Na visão da jogadora, que acumula quase 75 mil pontos no ato de publicação deste especial, há uma sensação de “falta” quando não há conquistas surgindo na teal, mas ela também tem pé firme para jogar aquilo que curte.
“Quando estou jogando e não pipoca uma conquista, me dá aquela sensação de que está faltando algo, e, consequentemente, eu corro para ver as quests. Porém, não jogo o que não gosto, nem o que eu já enjoei apenas por conquistas. Minha meta hoje é fechar em 100% os meus games favoritos e alcançar 100 mil de gamerscore apenas com jogos que eu curti. Acho bacana a galera que corre atrás de tudo que é conquista! Até admiro, pois eu jamais teria paciência para esse feito”, avalia Kath. O canal XPGG pode ser acessado clicando aqui.
Não me sinto 'coagido' a completar jogos, mas confesso que fico chateado se o jogo não abre nenhuma (ou poucas) conquistas
O ponto de vista da jogadora é semelhante à interpretação do fã Marcelo Brambilla, conhecido como “Brambz” na comunidade e como Vingador Brambz na Xbox Live, detentor de mais de 340 mil pontos de gamerscore no momento de publicação desta reportagem. “As conquistas são, para mim, um diferencial. Não me sinto 'coagido' a completar jogos, mas confesso que fico chateado se o jogo não abre nenhuma (ou poucas) conquistas. Se for fácil, eu completo. Se for divertido, completo também. (...) O som que elas fazem, os pontos acumulados, os rankings, tudo isso é prazeroso para mim. As conquistas também me permitiram conhecer novos gêneros e títulos, alguns impensáveis se fosse somente o ‘jogar por jogar’. Aí que entra o equilíbrio da coisa: você pontua e perpetua na sua gamertag”, relatou o jogador, que é voz ativa dentro da comunidade Xbox.
Com uma opinião igualmente sóbria, nosso nobre Matheus Carpenedo, o xCarpenedo da Xbox Live e fã de BioShock, acredita que as conquistas “adicionam uma outra camada à experiência de jogo” e também não vive em função delas, mas confessa que adora caçá-las.
“É algo que brinca com meu senso de recompensa e me incentiva a aproveitar mais os jogos que tenho. Não sou daqueles que joga qualquer coisa apenas pelos pontos (nada contra também), mas busco fazer o máximo de gamerscore nos jogos de que gosto e iria jogar de qualquer forma. Como fã de BioShock, por exemplo, estipulei a meta de completar todos os jogos da série tanto no Xbox 360 quanto no One. Quase lá!”, descreveu Carpe, hoje detentor de mais de 85 mil pontos de gamerscore, em resposta ao Voxel. O jogador também tem um canal no YouTube, cujo nome é Carpenedo, acessível clicando aqui.
As diferenças entre conquistas e troféus
Para denotar as diferenças e funcionalidades que cada sistema apresenta – conquistas no Xbox e troféus no PlayStation –, o Voxel publicou uma outra matéria que pode ser acessada bem aqui.
A rotina de caçadores de conquistas e troféus
Aproveite o embalo e não deixe de conferir também nossa reportagem sobre caçadores de conquistas e troféus, em que conversamos com alguns especialistas nessa arte. Clique aqui e boa leitura.
Agora é a sua vez: qual é o seu perfil de jogador? Até onde vai o seu limite por gamerscore ou, é claro, por troféus também? Escreva sua história aqui embaixo, no campo de comentários, e participe do debate.