Segundo um novo estudo realizado por cientistas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a infecção causada pelo SARS-CoV-2 é responsável por modificar o funcionamento do RNA da célula hospedeira e, assim, causar uma maior infecção viral. O artigo foi publicado na revista científica Frontiers in Cellular and Infection Microbiology, em agosto de 2022.
Para realizar a pesquisa, ao sequenciar o RNA, os cientistas analisaram o epitranscriptome de células derivadas de macacos (Vero) e células derivadas de humanos (Calu-3). O epitranscriptome inclui todas as alterações bioquímicas que acontecem no RNA, como a metilação, uma modificação que ocorre nas células por meio da ação de enzimas que transferem parte de uma molécula para outra.
Segundo o professor da Faculdade de Medicina da Unifesp e um dos autores do artigo, Marcelo Briones, a metilação tem duas funções importantes nos vírus, são elas: regular a expressão de proteínas e defender o vírus contra as ações do interferon, uma substância antiviral produzida no organismo do hospedeiro.
O estudo é a continuação de um artigo anterior, que investigou o padrão de metilação no SARS-CoV-2.Fonte: Shutterstock
“Nossa primeira descoberta importante neste estudo foi que a infecção pelo SARS-CoV-2 aumenta o nível de m6a [N6-metiladenosina], um tipo de metilação, nas células hospedeiras em comparação com as células não infectadas”, disse Briones em um comunicado.
Alterações no SARS-CoV-2
Os cientistas da Unifesp analisaram o tipo mais comum de modificação de nucleotídeos de RNA, o m6a — ele é responsável por diferentes processos importantes, como a localização intracelular e a tradução de proteínas. Dessa forma, eles descobriram que algumas cepas do vírus podem ser mais metiladas que outras, proliferando o vírus muito mais efetivamente dentro de um hospedeiro.
Além de abrir mais caminhos para novos tratamentos contra a covid-19, o estudo também ajudará os cientistas a entenderem como as diferentes variantes escapam do sistema imunológico do infectado. Agora, o próximo passo dos pesquisadores é analisar a correlação entre grau de metilação e o fenômeno de explosão viral, quando o vírus é liberado de cada célula infectada.