Vacina de Madureira não é de Madureira, entenda essa confusão

3 min de leitura
Imagem de: Vacina de Madureira não é de Madureira, entenda essa confusão
Imagem: Reprodução

Nesta semana, viralizou a notícia de que uma suposta vacina falsificada contra a covid-19 estaria sendo comercializada em Madureira, bairro da cidade do Rio de Janeiro.

No entanto, o jornalista Marco Faustino, ex-colaborador do site de verificação de fatos E-farsas, decidiu pesquisar essa história e compartilhou suas impressões em seu perfil no Twitter e, de acordo com o profissional, o conteúdo é falso.

"Desde o começo essa história tinha uma 'red flag' gigantesca: uma única foto. Só uma foto? Sem vídeo? E a aplicação? E a foto do certificado?", questionou Faustino. Ele ainda complementou: "Se isso fosse tão comum, dada a 'crença cega' (para não dizer outra coisa) das pessoas, centenas já teriam comprado e diversas fotos e vídeos estariam pipocando por aí, mas não há absolutamente NADA. Uma parte da imprensa deu voz a uma mera evidência anedótica".

Além disso, ele indicou que o site ligado à matéria teria relação com outra informação sem embasamento.

De onde veio a foto?

Faustino explicou que a imagem em questão foi tirada em Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos, durante um "evento de vacinação" promovido pela Palms Sports, que oferece programas de treinamento esportivo. Para comprovar tal fato, incluiu em suas considerações o vídeo postado em 14 de dezembro pela organização.

"Conversei com dois atletas da Palms Sports, que me garantiram que se trata do mesmo ginásio onde ocorreu o evento de vacinação promovido pela empresa. Disseram que 'todo mundo' tirou fotos ou gravou vídeos com a caixa da vacina. Ambos ficaram de ajudar a encontrar o autor", esclareceu o jornalista.

O TecMundo entrou em contato com Faustino, que declarou o seguinte: "Esse caso é muito emblemático, porque desde o começo só havia uma imagem e um relato (evidência anedótica): o de um produtor cultural que alegou até ter conversado com o ambulante. E somente isso é uma red flag gigantesca para qualquer artigo, independentemente do assunto. Muito frágil".

"Relatos são muito complicados de serem analisados, porque geralmente são bem subjetivos. Parte de experiência pessoal, momentos e frações de segundos que nem sempre são documentados de maneira satisfatória", considerou o jornalista.

"Nesse caso, havia uma imagem como 'prova': uma caixa de vacina da Sinopharm. Isso limitava a busca atrás da imagem. Num trabalho de formiguinha, chegamos até o evento da Palms Sports nos Emirados Árabes Unidos. Caixa idêntica, mesmo chão. A imagem que compartilhei foi extraída dos stories dela do Instagram (Vacina Tour)".

"Uma parte da história alega que várias pessoas teriam ouvido ou visto ambulantes vendendo a vacina em Madureira. Porém, tais relatos só surgiram após a publicação do produtor cultural que, por sua vez, a apagou no Facebook. Quem são essas pessoas? O que elas viram? Trata-se de comentários em redes sociais?", questiona-se o profissional. "Imagine se eu falo que vi um Pé-Grande e brinquei com os filhos dele. Ele me disse que era divorciado, mas pediu para não ser identificado. Aconteceu?", ele indagou.

Puxão de orelha

Quanto à possibilidade de que situações como essa possam ocorrer em um momento futuro, Faustino é taxativo: "É importante destacar que é esperado, de certa forma, que vacinas falsas apareçam no mercado paralelo, mas quando isso acontecer a imprensa precisa estar devidamente preparada para isso. Precisa ser checado antes de ser divulgado".

O TecMundo também entrou em contato com Cristina Tardáguila, diretora-adjunta da International Fact-Checking Network (IFCN), a qual ressaltou o que considera uma verdadeira "bola de neve" prejudicial a todos os envolvidos: "Gastar esse cartucho tão importante nos coloca em uma situação perigosa, a exemplo da história 'Pedro e o Lobo', na qual, quando algo acontece de fato, ninguém mais acredita".

"A cobertura sobre vacinação e covid-19 requer grau de cuidado muitíssimo maior para não perdermos credibilidade quando os fatos realmente ocorrerem. A política de correção pública precisa ser aplicada o quanto antes. É preciso reconhecer falhas o mais rápido possível", finalizou Tardáguila.

Fontes

Você sabia que o TecMundo está no Facebook, Instagram, Telegram, TikTok, Twitter e no Whatsapp? Siga-nos por lá.