Ele já foi essencial para você acessar alguns dos mais importantes sites da internet, mas hoje é evitado ao máximo. Para muita gente, a trajetória descendente do Flash Player, da Adobe, foi meteórica: do nada, empresas começaram a criticar a plataforma ou até desativar conteúdos dela.
Porém, a briga é mais longa do que parece. Há anos, vários especialistas fazem críticas ácidas contra o plugin de animação para navegadores. Steve Jobs era um dos mais descontentes e, ainda em 2010, afirmou que a plataforma fora deixada para trás por pertencer a uma era em que só usávamos computadores — e ele estava certo, já que hoje os dispositivos móveis são os que mais evitam a ferramenta.
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Antes de assinarmos o atestado de óbito da plataforma, entretanto, temos que reconhecer as qualidades: o plugin já está no mercado há um bom tempo (e trouxe recursos próprios que deixaram o consumidor acostumado com ele), suporta inúmeras versões de navegadores ou PCs sem incompatibilidades e é um mecanismo de publicação relativamente simples.
Só que não dá para negar: ele está na lista negra de sistemas operacionais, usuários e desenvolvedores. De qual lado você está?
A segurança não está em primeiro lugar
Esse argumento desarma todas as defesas: com cada vez mais frequência, surgem relatos sobre vulnerabilidades e exploração de falhas de segurança no plugin. Além de serem perigosos, os ataques podem atingir muita gente de uma só vez: é imensurável a quantidade de usuários que acessa com frequência joguinhos em Flash (mesmo sem saber o que ele significa) ou páginas com animações e menus utilizando a plataforma.
Kits exploit, que são pedaços de software que exploram falhas para facilitar a entrada de malwares e outros arquivos, usaram e abusaram do Flash em inúmeros casos. Além disso, não são poucas as falhas que hackers com más intenções encontram antes dos próprios desenvolvedores — e, mesmo que elas sejam corrigidas rapidamente com atualizações, a existência em alta quantidade é preocupante, já que uma brecha sempre escapa aos olhos da Adobe.
A questão é que, assim como outros plugins, o Flash permite que páginas rodem scripts complexos ao mesmo tempo que acessa a memória do seu computador. Ou seja, é possível usá-lo para o mal, garantindo o controle remoto da máquina e permitindo que algum invasor envie comandos diretos ao PC sem a sua permissão.
A questão de segurança esbarra também nas atualizações: nem todos os usuários baixam rapidamente as novas versões, enquanto alguns continuam com as antigas. Isso deixa uma grande parcela da população vulnerável a ataques que já haviam sido barrados.
Esses e outros exemplos levaram o chefe de segurança do Facebook a querer o Flash “morto” e o Firefox a desabilitar temporariamente conteúdos com o plugin.
O Flash é consumista
Um dos pontos do discurso de Jobs sobre o Flash está relacionado ao alto consumo de bateria do plugin para rodar os conteúdos. Ao mesmo tempo que permite a exibição de sites complexos e cheios de recursos, ele consome muita bateria. Esse pode ser um problema em tablets, smartphones e laptops, especialmente se você pretende usá-los fora da tomada por bastante tempo — e foi o que levou o Chrome a criar um filtro para “conteúdos desnecessários”. O cofundador da Apple também alegou que o Flash era a principal causa de crashes nos Macs.
Em um comparativo feito pelo site Pplware, é possível notar a diferença entre vídeos em Flash e clipes no codec H.264 rodando em HTML5. O resultado? O plugin da Adobe utiliza o dobro de processamento da CPU, mais memória RAM e até eleva a temperatura de dispositivos.
Campanhas contra o Flash são cada vez mais comuns
Jobs não ficou só no discurso: o iOS abandonou o recurso há tempos, assim como o Android. É possível visualizar conteúdos em Flash com o Adobe AIR, mas aí já é outra história.
O Flash é antiquado e proprietário
Continuando a lista de críticas, o Flash não se adequa bem a comandos de telas sensíveis ao toque, uma tecnologia que hoje não só domina os dispositivos móveis, mas também já existe em vários laptops.
Além disso, o plugin não é o maior amigo dos mecanismos de busca pela rede. Até mesmo os processos mais recentes de captura de palavras-chave e conteúdos não conseguem extrair todas as informações de determinadas páginas, o que pode ser ruim para o ranqueamento do seu site no Google, por exemplo. O ódio é tanto que até já existe uma campanha para “livrar a internet” do Flash.
De astro ao limbo?
Outro problema apontado por Jobs é que o Flash é “100% proprietário da Adobe”, o que significa que a empresa é a única responsável por disponibilizar o plugin, além de controlar o preço do uso da plataforma e de suas ferramentas, entre outros poderes. Só que a Apple não pode reclamar tanto assim de o Flash ser proprietário, já que ela mesma é bastante fechada em relação à liberação de códigos e até à disponibilização de serviços e aplicativos para outras plataformas.
Fica então o questionamento (que não será respondido neste artigo): é tão ruim assim que empresas como Adobe, Apple e muitas tenham tecnologias próprias, se elas forem de qualidade? A polêmica é grande.
Não o enterre antes da hora
Apesar de tantas críticas, o Flash Player continua firme e forte em muitos cantos da internet. A lenta transição e a falta de conhecimento por parte dos responsáveis pelo domínio podem ser os grandes vilões. Para você ter uma ideia, vários serviços de streaming se acomodaram com o Flash e só devem mudar para alguma alternativa quando ela oferecer uma transição realmente fácil — incluindo o Spotify.
Porém, o maior problema está em sites menores, que não são atualizados constantemente e não possuem uma equipe de programação atenta a falhas de segurança — a página caseira de uma pequena empresa, por exemplo. Esse tipo de endereço pode demorar anos ou nunca migrar do plugin para uma opção melhor.
Há ainda uma grande parcela de máquinas com o navegador desatualizado, como no caso do ainda popular Internet Explorer em versões antigas. Desabilitar o Flash instantaneamente deixaria muita gente de mãos vazias e sem diversos conteúdos na rede. Ou seja, a situação é ruim, mas pode ser ainda pior se ficarmos sem o Flash do dia para a noite.
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O Flash que conhecemos hoje para rodar vídeos, jogos e animações começou em 1996 e até evoluiu com o passar do tempo, mas hoje é uma plataforma obsoleta que tem duas alternativas: ou se reinventa ou pede para sair.
A partir de agora, o Flash deve ser como o último aluno a ser escolhido para o time de futebol da aula de Educação Física: recursos como o HTML5, o WebGL e muitos outros (que não trabalham exatamente da mesma forma, mas podem ser usados no lugar dele em alguns momentos) serão cada vez mais preferidos por desenvolvedores, navegadores e empresas em geral. A morte lenta e gradual do plugin pode ser triste e ele deve deixar saudades, mas a transição, se bem feita, só trará benefícios.
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